Património e Turismo
O Comité Científico Internacional para o Turismo Cultural do ICOMOS foi pioneiro na integração da prática de proteção do património e do turismo, ao adotar a primeira Carta Internacional de Turismo Cultural em 1976. Este documento, bem como a Carta Internacional do Turismo Cultural de 1999 e a Declaração de Florença sobre Turismo Sustentável para o Desenvolvimento de 2017, são marcos da doutrina internacional neste domínio.
Desde 1976 reconhecem-se os efeitos positivos e negativos do turismo cultural no património. Os positivos relacionam-se com a conservação dos bens e os benefícios socioculturais e económicos para as populações locais. Os negativos prendem-se com a forma como o turismo é praticado atualmente, com a “ocupação massificada e incontrolada dos monumentos e dos sítios que constituem o seu objeto”.
A atualização da Carta Internacional do Turismo Cultural em 2021 enquadra-se no contexto atual, alinhado com a Agenda 2030 das Nações Unidas e o Programa de Turismo Sustentável do Património Mundial da UNESCO. Tem como objetivos: a proteção do património cultural, os direitos das comunidades, a governação participativa na gestão do património cultural e do turismo, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e as políticas de Ação Climática.
Sustentabilidade e Clima são palavras-chave no setor do Turismo e do Património Cultural. Este ano, o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios é dedicado ao tema “Património e Clima”. Celebra-se o 50º aniversário da Convenção da UNESCO relativa à Proteção do Património Mundial Cultural e Natural. Este documento introduziu a categoria de paisagem cultural e alargou o conceito de património, reforçando as interações entre o património cultural e natural e a necessidade de preservar o equilíbrio entre ambos.
A edição de um número da Construção Magazine dedicado ao Património e Turismo tem o propósito de refletir estas questões, de forma multidisciplinar. Analisa-se o setor do Turismo, em particular a gestão dos destinos turísticos, os desequilíbrios regionais, os efeitos do turismo de massa e o impacto do turismo nos monumentos e nas comunidades locais.
O artigo dedicado ao Património Mundial, o principal alvo do turismo cultural, confirma que a ocupação dos edifícios históricos e da paisagem essencialmente para hotéis e fins turísticos conduz à redução significativa da população local. São designados de “cidades invisíveis” os centros históricos de Évora, Porto e Guimarães. Este fenómeno verifica-se igualmente em paisagens culturais, como o Alto Douro Vinhateiro.
O artigo Paisagem e Turismo apela precisamente à necessidade de gestão de “serviços de paisagem” e alerta que o prolongamento da cidade pelo espaço rural não deve provocar destruição da paisagem. A análise da reabilitação urbana reconhece a adaptação climática na construção de edifícios sustentáveis; não obstante, reclama o investimento em infraestruturas para servir a cidade, em vez de, exclusivamente, intervenções no edificado para consumo turístico.
Por fim, o tema Acessibilidade em Património promove a inclusão e responsabilidade social, para que todos possam usufruir do Património cultural - monumentos, conjuntos ou sítios – nas suas dimensões materiais e imateriais.
Congratulamo-nos com esta publicação que, esperamos, possa informar e sensibilizar os leitores na adoção das melhores práticas nas suas atividades relacionadas com o Património e o Turismo.
Em colaboração com Soraya M. Genin, co-editor da Construção Magazine nº108 e prof. auxiliar do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, Presidente do ICOMOS-Portugal
Diretor da Construção Magazine / Professor na FEUP
Se quiser colocar alguma questão, envie-me um email para info@construcaomagazine.pt
Outros artigos que lhe podem interessar