Gestão na Engenharia Civil
O setor da construção atravessa um período de grandes choques externos: (in)disponibilidade de mão de obra, aumento de custos de produção, disrupção das cadeias de abastecimento, aumento dos custos de financiamento, forte pressão da procura (pública e privada), crescentes preocupações ambientais, apenas para enumerar alguns exemplos.
Estes choques recentes e, em larga medida, exógenos ao setor, estão a exponenciar um conjunto de fragilidades endógenas que não são recentes e estão, há muito, identificadas. Historicamente, o setor exibiu níveis de produtividade muito baixos e sem uma trajetória de crescimento, reduzida inovação nos materiais, processos e tecnologias construtivas, baixos níveis de adoção digital, em particular no planeamento e gestão dos projetos, entre outras. Estas fragilidades potenciaram a adoção de processos de gestão com fluxos de informação pesados, incompletos e lentos, que fomentam uma atitude reativa à solução dos problemas, sejam ao nível micro de cada projeto seja ao nível macro na capacidade de resposta aos desafios societais emergentes. A resposta aos choques externos exige, para os gestores de empresas e de projetos, uma capacidade de adaptação, decisão em contextos de informação incompleta e agilidade no processo de tomada de decisão, que não são compatíveis com uma cadeia de valor tradicional, baseada em processos e técnicas desfasados da complexidade e dinamismo da realidade.
Acresce que a sociedade espera muito do setor.
Os investimentos (públicos e privados) previstos para a próxima década na área da habitação, infraestruturas públicas, adaptação climática, entre outros, exigem uma capacidade de resposta sem precedentes.
A confluência dos desafios, pese embora impliquem algumas consequências negativas (sociais e económicas), está a acelerar a procura de soluções para a gestão dos projetos mais resilientes aos choques, mais eficientes na capacidade de entregar valor aos stakeholders e mais capazes de responder aos desafios emergentes estruturais que têm emergido.
Hoje é claro que os próximos dez anos representam para o setor um período de maior convulsão na gestão e organização dos projetos do que o que se verificou nas últimas cinco décadas. Os níveis de produtividade terão de aumentar, assim como deve intensificar-se o controlo sobre os custos e prazos dos projetos, aproximando este setor da tendência de crescimento e melhoria que outros setores económicos exibiram nas últimas décadas.
Que implicações para a gestão da construção? O que se exigirá de um gestor de projetos de construção? Este número temático procura reunir um conjunto de contributos sobre tópicos emergentes na gestão da construção, partindo da conversa com quem possui responsabilidades de gestão.
Os modelos tradicionais de gestão de projetos de construção serão reinventados para acomodar o advento de ferramentas digitais, de uma nova visão integrada dos projetos com foco no seu desempenho e não apenas na sua execução e, também, da incorporação nos processos de decisão e gestão de soft skills. Partindo de um maior e melhor nível de conhecimento, providenciado pelas ferramentas digitais, big data e inteligência artificial, será possível melhorar o planeamento e desenvolvimento dos projetos de construção, entregando mais valor à sociedade, às entidades contratantes e, também, às empresas.
O conjunto de contributos reunido neste número temático permite obter uma visão global dos desafios sob a perspetiva da gestão, embora não esgotem as dimensões e implicações deste processo de reestruturação da cadeia de valor. Esperamos que possam encontrar neste número temático contributos para a acelerar a transformação do setor, aproximando a sua capacidade de resposta às expectativas da sociedade.
Em colaboração com Carlos Oliveira Cruz, co-editor da Construção Magazine nº118
Diretor da Construção Magazine / Professor na FEUP
Se quiser colocar alguma questão, envie-me um email para info@construcaomagazine.pt
Outros artigos que lhe podem interessar