Durabilidade de blocos de terra comprimida estabilizados com ligantes recuperados a partir da fração cimentícia de resíduos de betão
Foto Joao/ Unsplash
O trabalho experimental visou avaliar a durabilidade de blocos de terra comprimida (BTC) estabilizados com materiais cimentícios, através da análise da massa volúmica, resistência à compressão, absorção por imersão, absorção capilar e erosão acelerada. Os blocos foram produzidos substituindo progressivamente o cimento Portland (CP) por cimento reciclado de pasta (CRP) ou betão (CRB) e o solo por resíduos de construção e demolição (RCD).
O desempenho dos BTC dependeu essencialmente do teor de ligante, teor em água e da compactação. Os BTC estabilizados com CP apresentaram melhor desempenho mecânico e menor absorção de água devido à sua maior compactação. No entanto, a erosão não dependeu do tipo de ligante. Os BTC não estabilizados desintegraram-se em contato com água, enquanto os BTC estabilizados com CRP ou CRB resistiram à imersão, alcançaram uma alta resistência à erosão e triplicaram a resistência à compressão. Concluiu-se que estes ligantes são uma alternativa viável ao CP. A incorporação de até 25% RCD não afetou significativamente o desempenho dos BTC, oferecendo uma solução mais sustentável.
Introdução
A técnica de blocos de terra comprimida (BTC) explora a estabilização mecânica para melhorar o desempenho da construção em terra crua. No entanto, para diminuir a alta susceptibilidade à água da construção em terra, é necessário também proceder à sua estabilização química [1]. O cimento Portland (CP) é o estabilizante mais utilizado, permitindo a dispersão das partículas de argila e a sua cimentação [2]. Porém, a utilização de cimento, que emite mais de 800 kg de CO2/ton de clínquer [3], elimina a natureza ecológica da construção em terra. Assim, urge encontrar ligantes alternativos ao CP. Têm sido explorados vários estabilizantes naturais e subprodutos industriais [4], mas apresentam fraca aplicabilidade, baixa eficiência ou durabilidade reduzida. Nesse sentido, recentemente, o Instituto Superior Técnico desenvolveu um novo ligante de baixo carbono, obtido a partir da termoativação a baixa temperatura de resíduos de betão – o cimento reciclado (CR) [5]. Este CR é comparável a um CP tipo I 32,5 [6], mas associado a uma redução de 40% nas emissões de CO2, menor consumo de matérias-primas naturais e reutilização de resíduos de construção e demolição (RCD) [7]. Este trabalho analisa pela primeira vez a durabilidade de BTC estabilizados com CR, comparando seu desempenho com BTC não estabilizados (NE) e BTC com igual teor de CP.
Campanha Experimental
Para este estudo, utilizou-se um solo arenoso de Alcochete, a que foi adicionado resíduo fino resultante do fabrico de telhas cerâmicas (TV), de modo a ajustar o teor de argila. Parte do solo foi ainda substituído por RCD, essencialmente composto por resíduos de betão e pedra natural e com granulometria semelhante à do solo.
O CR foi produzido a partir de resíduos de pasta (CRP) ou de betão (CRB) com mais de 90 dias, utilizando-se CEM I 42,5R e relação água/ligante (a/l) de 0,55. O CRP envolveu a britagem, moagem (<150 µm) e termoativação que seguiu a seguinte curva térmica: 10oC/min até 150oC; 1 hora a 150oC; 10oC/min até 450oC; 1 hora a 450oC; 10oC/min até 650oC onde se mantém por três horas. O CRB exigiu ainda a separação prévia dos constituintes do betão, com base em Bogas et al. [8]. Estimou-se um grau de pureza de 67% para o CRB, por análise termogravimétrica.(...)
Por Ricardo Cruza; José Bogasb; Sofia Realc, José Rodriguesd
aCERIS, IST-Universidade de Lisboa, Av. Rovisco Pais, 1049-001, Lisboa, Portugal
bCERIS, IST-Universidade de Lisboa, Av. Rovisco Pais, 1049-001, Lisboa, Portugal
cLaboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), Av. do Brasil, 101, 1700-066, Lisboa, Portugal
dIST-Universidade de Lisboa, Av. Rovisco Pais, 1049-001, Lisboa, Portugal
(Nota: Por lapso a identificação foi feita incorrectamente na revista, pelo que disponibilizamos a identificação correta dos autores do presente artigo)
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