Execução de estruturas metálicas e mistas segundo a norma EN 1090

Rui Simões, Professor Auxiliar/DEC Universidade de Coimbra

Sérgio Gonçalves, Engenheiro de Soldadura/CMM Associação Portuguesa de Construção Metálica e Mista

A qualidade de execução de uma estrutura metálica ou mista depende do cumprimento de um conjunto de requisitos técnicos que abrangem todas as fases do processo.

A norma de execução de estruturas de aço e de alumínio atualmente em vigor na Europa é a EN 1090. Esta norma contém os requisitos técnicos para a execução das estruturas e constitui a base para a marcação CE das estruturas metálicas e dos componentes metálicos das estruturas mistas aço-betão.

Apenas os componentes estruturais de aço e alumínio, com a correspondente marcação CE, podem ser comercializados na Europa. Desde julho de 2014, todos os fabricantes devem ser certificados pela EN 1090. Em caso de não cumprimento, o Decreto-Lei n.º 130/2013 prevê coimas, contraordenações e sanções acessórias que punem os fabricantes não cumpridores dos termos dispostos. A fiscalização compete à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE).

Após a sua publicação em 2008, a norma EN 1090 entrou num processo de revisão que culminou com a publicação de uma nova versão em 2017 e 2018. Na nova versão, as 3 partes que constituíam a versão de 2008 foram revistas e transformadas em 5 partes.

A norma evolui continuamente. Num futuro próximo irá referenciar novos temas, como a utilização sustentável de recursos naturais (ciclo de vida dos produtos) e recomendações para a utilização de aços de alta resistência.

A tradução e implementação da norma em Portugal, bem como a participação nas reuniões de trabalho internacionais ao nível do CEN, tem estado a cargo da Comissão Técnica CT 182 do IPQ – Instituto Português da Qualidade.

A CMM – Associação Portuguesa de Construção Metálica e Mista, através das atividades de formação e de assistência técnica às empresas, tem contribuído de forma significativa para a divulgação da EN 1090 em Portugal.

NORMA EN 1090 - VERSÃO ATUAL

A versão atual da norma EN 1090 é constituída por 5 partes:

  • A parte 1 [1] inclui os requisitos para a avaliação de conformidade. Contém os procedimentos para a certificação do processo de fabrico, assim como para a emissão da Declaração de Desempenho e a Etiqueta CE do produto.
  • A parte 2 [2] contém os requisitos técnicos para estruturas de aço. Fornece as prescrições para a execução das estruturas de aço laminado a quente, abordando a classificação dos aços, a compra, a receção, a rastreabilidade, o corte, a furação, o desempeno, a montagem em fábrica, a soldadura, o controlo do fabrico, as tolerâncias, os ensaios não destrutivos, a proteção anticorrosiva, a montagem em obra, entre outros.
  • A parte 3 [3] contém os requisitos técnicos para estruturas de alumínio. É semelhante à anterior, mas aplicável às estruturas de alumínio.
  • A parte 4 [4] contém os requisitos técnicos para elementos e estruturas de aço enformado a frio, para coberturas, tetos, pisos e paredes. É uma parte nova dedicada exclusivamente às estruturas em aço enformado a frio, cujo conteúdo foi segregado da anterior EN 1090-2.
  • Por fim, a parte 5 [5] contém os requisitos técnicos para elementos e estruturas de alumínio enformado a frio, para coberturas, tetos, pisos e paredes. É idêntica à anterior, mas aplicável às estruturas de alumínio.

PRINCIPAIS DIFERENÇAS RELATIVAMENTE À VERSÃO ANTERIOR

Algumas das principais atualizações da norma são destacadas a seguir; estas referem-se especificamente à parte 2, por ser a mais utilizada pelas metalomecânicas. O período de transição desta parte da norma terminou no final de 2018. A nova versão da EN 1090-2 deve começar a ser utilizada já em 2019.

  1. Classes de execução - A determinação da classe de execução de uma estrutura (ou parte) cai totalmente dentro das responsabilidades do projetista. O Anexo B "Orientações para a determinação das classes de execução" foi suprimido e o seu conteúdo foi transferido para um anexo do Eurocódigo 3. Foi ainda removida a predefinição de EXC 2 para os casos em que a classe de execução não é especificada.
  2. Procedimentos de soldadura (PQR) - Deve ser considerado o nível L2 para as qualificações a realizar segundo a EN 15614-1: 2017. Foram ainda removidos os ensaios adicionais a realizar a um PQR que não se encontre em utilização e que tenha sido qualificado segundo a norma referida.
  3. Ensaios não destrutivos (END) - A definição da extensão recorre a dois critérios possíveis:

1 - Através do novo Anexo L (informativo) “Orientação na seleção de classes de inspeção de soldadura”. Deve estabelecer-se um valor da Classe de Inspeção para as soldaduras (WIC) variando de WIC1 para controlos menos exigentes até WIC5 para controlos mais exigentes. Esta escolha deve ser realizada pelo projetista.

2 - O antigo critério para determinar a extensão dos END ligado à classe de execução não foi abandonado, mas é utilizável em alternativa (ou em conjunto) ao novo critério referido anteriormente. As percentagens devem ser interpretadas como um mínimo a ser cumprido para todas as soldaduras, importantes ou não, e a atribuição dessas verificações pode ser realizada sem a intervenção do projetista porque depende apenas da classe de execução. Existem no entanto algumas alterações, tais como: para classe de execução EXC4 a percentagem dos END suplementares deve ser no mínimo igual à correspondente à classe de execução EXC3 e devem ser especificados END adicionais em soldaduras particulares e devidamente identificadas.

  1. Corte térmico - A periodicidade da avaliação de capacidade dos processos de corte térmico mecanizados está agora bem definida, passando a ser anual. Foi também incluído um novo anexo informativo (Anexo D) com orientações para o procedimento de verificação da capacidade do processo. O anexo está bastante explícito, incluindo exemplos das amostras a produzir de forma otimizada.
  2. Anilhas compressíveis - O Anexo J “Utilização de dispositivos indicadores de esforço, do tipo anilhas compressíveis” foi removido e como tal deixa de ser um requisito normativo.
  3. Aperto de ligações pré-esforçadas - Foi introduzido um novo anexo informativo, o Anexo I “Determinação da perda de pré-esforço para revestimentos de superfície espessos”. Aplica-se a ligações aparafusadas cujas superfícies de contacto tenham um revestimento com espessura superior a 100 µm. Foi aumentado o número de classes de superfícies de atrito em ligações pré-esforçadas. São ainda fornecidas orientações e um procedimento de teste para verificação da conformidade.
  4. Enformados a frio - Os requisitos técnicos para elementos de aço estrutural enformado a frio foram removidos da EN 1090-2 e passaram para a EN 1090-4.
  5. Furação - Os requisitos de furação (broca, laser, plasma ou outro corte térmico) são agora transversais a todas as classes de execução, deixando de existir casos particulares.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] EN 1090-1: 2009 + A1:2011-en - Execution of steel structures and aluminium structures - Part 1: Requirements for conformity assessment of structural components, European Committee for Standardization, Brussels.

[2] EN 1090-2:2018-en - Execution of steel structures and aluminium structures - Part 2: Technical requirements for steel structures, European Committee for Standardization, Brussels.

[3] EN 1090-3:2008-en - Execution of steel structures and aluminium structures - Part 3: Technical requirements for aluminium structures, European Committee for Standardization, Brussels.

[4] EN 1090-4:2018-en - Execution of steel structures and aluminium structures - Part 4: Technical requirements for cold-formed structural steel members and sheeting and cold-formed steel structures for roof, ceiling, floor and wall and cladding applications, European Committee for Standardization, Brussels.

[5] EN 1090-5:2018-en - Execution of steel structures and aluminium structures - Part 5: Technical requirements for cold-formed structural aluminium elements and cold-formed structures for roof, ceiling, floor and wall applications, European Committee for Standardization, Brussels.

Artigo publicado na Coluna Estruturas Metálicas na Construção Magazine nº 89

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