Digital Twin e o Ambiente Construído
A indústria da construção, um dos pilares fundamentais do ambiente construído, enfrenta desafios sem precedentes no século XXI. Entre eles, a urgência de abordar as alterações climáticas, para as quais este setor contribui para cerca de 40% das emissões globais de gases de efeito estufa. Outros desafios poderiam ser elencados, como a atual crise da habitação, para a qual o setor terá necessariamente de encontrar respostas, ou até a problemática crescente da necessidade de gestão e manutenção de infraestruturas, que obrigará em breve a investimentos consideráveis.
Com os grandes desafios, surgem as grandes oportunidades. E a revolução digital é, sem dúvida, uma oportunidade incontornável para a indústria. Transforma a forma como planeamos, projetamos, construímos e gerimos os nossos espaços. No caso das transições climáticas, potencia análises de dados e simulações mais avançadas. No caso da habitação, permitirá acelerar os processos de licenciamento, através da verificação digital e semiautomática dos modelos de informação e a avaliação de cadastros digitais. Quando aplicada à gestão das infraestruturas, torna mais acessível a informação sobre o ativo e apoia a gestão otimizada e mais integrada.
Mas o Digital Twin não é apenas uma ferramenta digital: é uma ponte entre o mundo físico e o mundo virtual, que integra diversas escalas espaciais, permitindo o acesso à informação em tempo real. Este modelo digital funciona como um sistema de sistemas, que potencia diversas áreas de atuação no âmbito do ambiente construído: apoia a gestão de empreendimentos e contratos, a gestão de ativos, a gestão de informação e análise de dados e a tomada de decisão à escala do edifício, da cidade e do território.
O Digital Twin irá, certamente, revolucionar a forma como percebemos e interagimos no ambiente construído. No entanto, é vital que os decisores reconheçam que esta não é apenas uma transição tecnológica. Estamos perante uma mudança que abrange metodologias e processos, e impacta até a regulamentação existente. O incentivo à modernização dos processos, à atualização legislativa e à capacitação dos profissionais e empresas é determinante.
É ainda importante referir que a visão para o futuro da indústria passa por uma progressiva consciência do todo, uma visão holística do sistema. Precisamos de aprofundar as interconexões entre o edifício, a infraestrutura, a cidade e o território, em paralelo com um entendimento claro das dinâmicas das alterações climáticas e as novas dinâmicas societais. Sem dúvida que esta visão holística apenas nos será disponibilizada de forma plena com o acesso ao Digital Twin do ambiente construído, devidamente estruturado e sistematizado.
Em conclusão, estamos perante uma nova era, onde a inovação digital tem um papel crítico na definição do futuro da sociedade. Como criadores e fazedores do ambiente construído, temos a responsabilidade e a oportunidade de moldar este futuro. Com uma colaboração efetiva, e uma visão estratégica e recorrendo à inovação, podemos construir comunidades que respeitem o planeta, mas também melhorem a vida daqueles que nele habitam.
Em colaboração com António Aguiar Costa, co-editor da Construção Magazine nº117
Diretor da Construção Magazine / Professor na FEUP
Se quiser colocar alguma questão, envie-me um email para info@construcaomagazine.pt
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