Construção em Madeira
A evolução da utilização da madeira na construção funde-se e confunde-se com a história da Humanidade. O Homo Sapiens abandona as cavernas e usa ramos das árvores, para as suas novas casas. E quando se fixa, é à madeira que recorre para erigir os seus novos abrigos e aldeias. A presença da madeira na história da Humanidade, na evolução da construção e no desenvolvimento das tecnologias e soluções construtivas, é constante.
Assim se pode entender o valioso património construído em madeira presente em todo o mundo. E Portugal não é exceção. O nosso património arquitetónico construído em madeira é variadíssimo e de grande valor. A construção tradicional em Portugal contempla coberturas, pavimentos e paredes com sistemas construtivos em madeira, ou mistos. Após o sismo de 1755, desenvolveu-se um sistema sismo resistente pioneiro no mundo e na história da engenharia, cuja estrutura principal é de madeira, a gaiola pombalina, e que ainda hoje justifica inúmeros estudos científicos.
Mas o conhecimento de como conceber e construir com madeira foi perdendo importância com o aparecimento de outros materiais, como o aço e o betão armado. Em Portugal, hoje, a construção com madeira é um nicho, e a perda de saber e de competências foi acentuada. Nesta linha, o estudo sobre intervenções em estruturas de madeira do património construído é tratado no artigo do Dr. Saporiti Machado.
Noutras latitudes, como por exemplo na Europa Central e do Norte, a construção em madeira manteve-se sempre muito presente, com significativas evoluções, quer ao nível tecnológico quer ao nível dos materiais. Nestas regiões, a construção com madeira é muito atual, exibindo um forte crescimento. As preocupações ambientais, bem como os novos desafios impostos ao setor da construção, como a falta de mão-de-obra e a escassez de quadros técnicos, potenciam as vantagens da construção com madeira. Atualmente, é evidente o crescente interesse na construção com madeira em Portugal.
No Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) são várias as agendas que promovem o uso da madeira na construção. Estão planeadas várias unidades de produção de derivados de madeira, estão a ser criadas linhas automatizadas para a produção de paredes e pavimentos em timber frame, e serão desenvolvidos sistemas que potenciarão a construção modular. Em todas estas iniciativas, procura-se valorizar os recursos florestais nacionais, ao promover a utilização de espécies autóctones. Atribuir valor à floresta é, com certeza, a melhor forma de a proteger. Esta temática é abordada no artigo da Drª. Sofia Knapic.
A madeira lamelada cruzada colada (CLT – Cross Laminated Timber) atraiu muito a atenção do setor. As suas propriedades mecânicas permitem soluções construtivas com excelente desempenho estrutural. O seu comportamento bidirecional à flexão fora do plano, e a sua rigidez no plano, permitem construir lajes de maiores vãos, consolas e paredes resistentes. Engenheiros e Arquitetos têm tirado partido destas potencialidades no projeto de edifícios multiusos de vários pisos. Hoje assiste-se a uma corrida ao edifício mais alto em madeira. O atual recorde está nos 86,6 metros, no edifício Ascent, Milwaukee, nos Estados Unidos da América. Portugal conta já com algumas obras de referência com este material, como apresentado no artigo do Dr. Luís Jorge.
A construção em altura com madeira recorre à industrialização e à pré-fabricação. E, neste contexto, as soluções mistas madeira-betão têm ganho um novo fôlego, tirando partido das suas características de cada material. À madeira, leve e com um bom comportamento à tração, adiciona-se a massa do betão com uma boa resposta à compressão. O Prof. Alfredo Dias discute no seu artigo este tipo de soluções mistas.
Mas a construção em madeira levanta algumas questões, nomeadamente a sua durabilidade. A Drª. Lina Nunes aborda este tema no seu artigo.
Seja por motivações ambientais, seja pela inovação na construção, reconhece-se um interesse crescente pela utilização da madeira na construção. As potencialidades da madeira justificam o seu ressurgimento na construção. Este número da CM coloca em discussão a tendência relativamente recente do renascimento da construção em madeira.
Em colaboração com Jorge Branco, co-editor da Construção Magazine nº112
Diretor da Construção Magazine / Professor na FEUP
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