A construção em madeira e os desafios do nosso tempo

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O nosso mundo atravessa um período de mudança acelerada e profunda, uma dinâmica que acarreta riscos e desafios que, embora evidentes, nem sempre têm respostas claras ou imediatas. Em muitos casos, trata-se de questões de natureza existencial, cuja resolução exige o contributo de todos. O setor da construção em madeira oferece múltiplos contributos concretos, para ultrapassar algumas dificuldades com que nos deparamos, sendo igualmente evidente o seu potencial para ir ainda mais longe.
Hoje, irei focar-me em dois aspetos que considero particularmente relevantes.
A madeira é um material natural que acompanha a atividade humana desde os seus primórdios. Certamente por isso, desenvolveu-se uma biofilia, cujos efeitos nem sempre são completamente evidentes e que, podem mesmo revelar-se surpreendentes. A sensação de conforto e acolhimento que a maioria de nós sente em ambientes onde a madeira está presente de forma visível e predomina é geralmente reconhecida e amplamente valorizada. Diversos estudos indicam [1, 2, 3, 4] que esta relação pode induzir múltiplas repercussões positivas, como o aumento do bem-estar e da criatividade, ou a redução dos níveis de stress, entre muitos outros benefícios. No quotidiano, pode passar despercebida a profundidade e a importância destes efeitos, mas os ganhos são reais, quantificáveis e têm um impacto significativo na sociedade.
Na última edição do TimberWorQs [5], evento regular dedicado à divulgação e discussão da construção em madeira, pudemos assistir a uma excelente apresentação conduzida por Paul Brannen, uma personalidade com reconhecido conhecimento e pensamento nesta área, sobre a qual publicou um interessante livro [4]. Na sua intervenção, apresentou exemplos baseados em estudos realizados nos últimos anos.
Um desses exemplos referia-se a uma multinacional, líder mundial na área das tecnologias de informação, que comparou os índices absentismo num dos seus locais de trabalho, entre colaboradores instalados num edifício de madeira e outros em edifícios com funções e arquiteturas semelhantes, mas construídos com outros materiais. Verificou-se, de forma inequívoca, que os níveis de ausência ao trabalho no edifício construído em madeira eram inferiores.
Outro exemplo relacionava-se com a área da saúde e remetia para um estudo semelhante realizado em unidades de cuidados de saúde. Este estudo demonstrou que, para patologias semelhantes, os doentes internados em edifícios construídos em madeira recuperavam mais rapidamente e tinham alta médica num período de tempo mais curto, do que aqueles instalados em edifícios construídos noutros materiais. Os benefícios desta realidade são evidentes, tanto para os utentes como, igualmente importante, para os tão pressionados sistemas de saúde. (...)
Professor Auxiliar, Universidade de Coimbra
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