O impacto das estratégias de operação da ventilação mecânica centralizada na qualidade do ar interior em edifícios residenciais

FOTO FRANCESCA TOSOLINI/ UNSPLASH

Na Europa, seguindo a tendência mundial, as diretivas comunitárias estão a promover a construção de edifícios energeticamente mais eficientes e a acelerar a reabilitação energética dos edifícios existentes. Contudo, para reduzir o consumo de energia, a ventilação foi reduzida, à medida que a estanquicidade das fachadas dos edifícios foi melhorada. Consequentemente, a menor renovação do ar interior promove o aumento da concentração de vários poluentes interiores, resultando numa má qualidade do ar interior (QAI) nas habitações. Existe assim um difícil equilíbrio entre eficiência energética, conforto e qualidade do ar interior. Os problemas de QAI são particularmente relevantes, uma vez que as pessoas passam cerca de 90 % das suas vidas no interior de edifícios. A exposição prolongada a ambientes interiores com QAI inadequada pode ter vários efeitos adversos na saúde dos ocupantes. A maioria das consequências para a saúde causadas pela má qualidade do ar interior são as seguintes:

  • Disseminação de doenças infeciosas através do ar interior;
  • Crescimento de microrganismos que promovem doenças pneumológicas graves;
  • Presença de microrganismos responsáveis por problemas alérgicos e asmáticos;
  • Cancro do pulmão devido à exposição a partículas (PM) ou altas concentrações de poluentes.

A ventilação é necessária para remover ou diluir as concentrações poluentes aerotransportados e interiores. No entanto, a ventilação também pode contribuir para a diminuição da QAI se não existir um projeto, instalação, manutenção e operação adequados. Em Portugal, no que diz respeito ao sistema de ventilação, a maioria dos edifícios enquadra-se num de três grupos: ventilação natural, ventilação mecânica de extração centralizada (VMC) ou uma mistura das duas, conhecida como ventilação mista. No caso de edifícios com sistemas de VMC, os princípios técnicos são estipulados pela normalização nacional NP-1037-2. No entanto, após a entrada em funcionamento do edifício, os sistemas VMC são frequentemente alterados e a sua operação é interrompida durante períodos do dia. Portanto, principalmente por razões acústicas, mas também para se reduzirem consumos, a estratégia de gestão da VMC é interrompê-la quando os ocupantes estão em repouso, durante a noite.

A qualidade do ar em edifícios pode ser quantificada através da medição de diferentes parâmetros físicos, químicos e microbiológicos. Em edifícios residenciais e de escritórios, o CO2 é frequentemente monitorizado. Embora existam vários parâmetros químicos cuja concentração pode ser avaliada, o controlo do CO2 dá boas indicações de todos os outros poluentes relacionados com bioefluentes humanos, podendo por isso ser utilizado como um bom representante da QAI. Devido à correlação entre CO2 e ventilação, o CO2 é também utilizado em sistemas de ventilação on demand. De acordo com o estado da arte realizado por Guyot, Sherman, Walker, o CO2 e a humidade são os parâmetros mais utilizados para controlar este tipo de ventilação.

Objetivos

O impacto das estratégias de operação dos sistemas VMC das entidades gestoras dos condomínios habitacionais portugueses ainda não foi quantificado. Estas estratégias são caracterizadas por uma redução no número de horas em que o sistema VMC está ligado, uma vez que é interrompido durante períodos prolongados durante a ocupação noturna. Este estudo pretende colmatar esta lacuna de conhecimento. Assim, os principais objetivos deste trabalho são os seguintes:

  • Quantificar a concentração de CO2 das habitações portuguesas de acordo com o estado dos sistemas VMC.
  • Determinar as RPH das habitações quando a VMC está ligada e desligada.
  • Modelar a produção humana de CO2 no interior e prever as concentrações de CO2 se a VMC não fosse interrompida.(...)

Por Pedro Pereira
e Nuno Ramos

CONSTRUCT - LFC, Faculdade de Engenharia (FEUP)
Universidade do Porto

Leia o artigo completo na Construção Magazine nº 127 mai/jun 2025, dedicada ao tema "Qualidade do ar interior".

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