Criação de uma Especialização na Ordem dos Engenheiros na Área dos Riscos

FOTO CHRIS GALLAGHER/ UNSPLASH
A criação de uma especialização oficialmente reconhecida pela Ordem dos Engenheiros na área da Gestão dos Riscos (Outorga do Título de Especialista em Gestão de Riscos) é uma necessidade crescente, dada a complexidade e diversidade dos riscos enfrentados em várias disciplinas da engenharia. Esta especialização, transversal a todas as áreas da engenharia, requer a definição de critérios objetivos para a qualificação dos candidatos. Devido à ampla gama de tópicos que podem ser incluídos nesta especialização, é essencial estabelecer requisitos mínimos que orientem a adesão ao Título de Especialista.
Os riscos estão presentes em praticamente todas as áreas da engenharia, especialmente quando há incertezas e decisões que precisam de ser tomadas sem o conhecimento completo de todas as variáveis envolvidas. Isso inclui riscos naturais, como os associados às ciências da Terra (sismos, tsunamis, deslizamentos, derrocadas), fenómenos atmosféricos (cheias, tempestades, ondas de calor, incêndios), marítimos (ondulação, correntes) e outros riscos ligados ao mau funcionamento ou avaria de equipamento elétrico, mecânico, etc., ou decorrentes do fator humano.
O objetivo desta especialização é formar um grupo de profissionais credenciados capazes de gerir projetos complexos que envolvam riscos de origem natural ou acidental na fase de funcionamento das obras, infraestruturas, instalações ou equipamentos projetados e construídos por engenheiros. No caso específico do risco sísmico, é crucial adotar uma abordagem preventiva para mitigar os efeitos sobre as edificações e, consequentemente, sobre a população. A resposta pós-sismo fornecida pela Proteção Civil, por si só, seria insuficiente por causa da potencial dimensão dos danos e número de vítimas em caso de um sismo forte, que pode envolver mais de uma dezena de milhar de vítimas mortais, dezenas de milhar de feridos e mutilados, e centenas de milhar de desalojados. Mas mesmo com políticas preventivas adequadas, muito melhores que as que temos atualmente, que reduzam significativamente estes números, nunca haverá uma situação de risco zero. Por isso, a Proteção Civil desempenha um papel essencial no apoio aos feridos e outros sobreviventes, especialmente quando as ações preventivas são limitadas, como é o caso atualmente em Portugal. Mas nem sempre a melhor decisão de gestão de risco é a prevenção. Por exemplo, em casos de estruturas existentes em que os potenciais danos dificilmente causem vítimas humanas, as decisões podem basear-se essencialmente em critérios económicos e ser defensável apenas fazer as reparações de potenciais danos após o sismo. Em casos em que o impacto económico desses danos se deva ao tempo de interrupção de serviço, como pode ser o caso de alguns componentes de infraestruturas críticas, pode justificar-se apenas tomar medidas prévias para minimizar o tempo de reparação para permitir repor a funcionalidade da infraestrutura o mais rapidamente possível.
A preparação para desastres também pode ser vista como uma antecipação do que pode ocorrer, capacitando organizações e especialistas em risco para analisar e quantificar as consequências de determinadas decisões entre várias alternativas, como as referidas no parágrafo anterior. Dessa forma, eles podem orientar decisões para minimizar o impacto com a máxima eficiência na utilização dos recursos disponíveis (sempre escassos), incluindo o tempo de interrupção das atividades, algo crucial em caso de ocorrência de desastres e de infraestruturas de grande importância para a Proteção Civil e socorro, para a economia, ou para o funcionamento da administração pública.
Estando em estudo as prerrogativas para Outorgar o Título de Especialista em Gestão de Riscos, pode referir-se a título de exemplo que parâmetros como o grau de conhecimentos ou competência profissional, a experiência na atividade profissional, ou a formação complementar farão certamente parte destes requisitos.
Carlos Sousa Oliveira, Professor Catedrático Jubilado do Instituto Superior Técnico
Mário Lopes, Professor Auxiliar, DECivil, Instituto Superior Técnico
Outros artigos que lhe podem interessar