Ventilação em museus: o compromisso necessário entre o número de visitantes, a conservação e a qualidade do ar

FOTO ELIZABETH GEORGE/ UNSPLASH
O património cultural desempenha um papel essencial na sociedade, não apenas em termos culturais, mas também pelo seu interesse turístico e económico. Do ponto de vista económico, o aumento do número de visitantes pode contribuir para a sustentabilidade financeira dos museus. No entanto, é imperativo garantir que as condições de conservação e conforto não sejam comprometidas, dado que a presença humana gera calor, vapor de água, CO2 e odores, afetando a qualidade do ar interior. Neste artigo, procurou-se realizar uma revisão das principais normas e documentos internacionais.
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A ocupação excessiva representa um risco para a estabilidade do microclima, como evidenciado na Capela Scrovegni, em Pádua, onde foi necessário limitar o número de visitantes devido à degradação do ar interior e ao aumento da humidade relativa. Os autores recomendaram um caudal de 60 m³/h por pessoa para remoção do vapor de água sem induzir gradientes térmicos elevados e sugeriram uma taxa de renovação horária inferior a 1 h?¹ durante o período de visitas e uma média diária de 0,5 h?¹, com necessária implicação no número de visitantes. Na bibliografia referente à ventilação em museus, é comum encontrar taxas de renovação de ar novo entre 0,9 e 1,3 h-1 e taxas de recirculação 5 e 8 h-1.
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A análise comparativa das principais normas internacionais mostra que muitas abordagens prescritivas resultam em caudais de ar novo superiores aos limites recomendados para garantir estabilidade higrotérmica e eficiência energética.
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A altura útil das salas, a escolha dos materiais interiores e a recirculação do ar revelam-se fatores determinantes para mitigar o impacto da ventilação no consumo energético e na degradação das coleções. Embora o conceito de adaptação permita teoricamente reduzir os caudais de ventilação, a sua aplicação em edifícios patrimoniais continua controversa, dado o risco de comprometer a remoção eficaz de vapor de água. A definição de estratégias de ventilação deve basear-se numa avaliação do espaço, da ocupação e das exigências de conservação, com simulações dinâmicas que integrem perfis reais e a análise higrotérmica detalhada.
Autor Hugo Entradas Silva, Departamento de Engenharia Civil, NOVA School of Science and Technology, NOVA University Lisbon; CENSE – Center for Environmental and Sustainability Research & CHANGE – Global Change and Sustainability Institute, NOVA School of Science and Technology, NOVA University Lisbon
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