Segurança sísmica do edificado: Conhecer para reforçar o património construído

FOTO ALEXANDRE A. COSTA
1. O desafio do reforço sísmico na reabilitação
Portugal é um país de risco sísmico moderado a elevado, mas com um património construído maioritariamente anterior à regulamentação sísmica moderna, o que significa uma vulnerabilidade elevada no nosso parque construído. Este facto coloca desafios significativos à segurança e durabilidade do edificado, em particular nos centros urbanos e históricos, comprometendo a preservação do nosso património para a nossa e gerações futuras.
A crescente consciencialização sobre o risco sísmico e o envelhecimento do parque edificado tornam o reforço sísmico uma prioridade nacional — não apenas pela segurança de pessoas e bens, mas também pela preservação cultural e pela sustentabilidade do território. Estudos recentes da nossa equipa mostram que não reforçar sismicamente uma estrutura hoje — que, em caso de sismo moderado, poderá sofrer danos graves levando à sua demolição e reconstrução — pode resultar numa pegada de carbono, consumo de energia e uso de água várias vezes superiores aos custos ambientais de um reforço realizado agora. Ou seja, temos outras dimensões que a ter em conta quando decidimos as políticas de reforço sísmico, além da visão economicista associada ao custo do reforço sísmico.
A Engenharia Sísmica tem aqui um papel essencial: identificar vulnerabilidades, compreender as estruturas e desenvolver soluções de reforço compatíveis, eficazes e preservadoras do património construído, diminuindo o impacto das nossas intervenções nas gerações futuras.
2. O valor do conhecimento prévio
Qualquer intervenção estrutural começa pelo conhecimento do nosso edifício, da sua estrutura, e da história que a trouxe desde a sua construção até aos nossos dias. O relatório de avaliação da vulnerabilidade sísmica (RAVS), obrigatório desde 2019 (por aplicação da Portaria 302/2019), constitui a base de qualquer decisão de reabilitação e reforço sísmico. Este documento resulta de uma análise integrada — que inclui levantamento construtivo e estrutural, ensaios de caracterização dos materiais, inspeção in situ, modelação estrutural e análise do comportamento sísmico — e permite compreender como o edifício responde às ações sísmicas, analisar o seu comportamento global, e onde se localizam as zonas de maior vulnerabilidade. Se bem utilizado, o RAVS serve como avaliador do estado de saúde da estrutura com a obtenção de um diagnóstico rigoroso e fundamentado e servir de orientador de possíveis localizações e soluções de reforço sísmico a adotar.
Conhecer é, assim, o primeiro passo para reforçar — e, sobretudo, para proteger. (...)
Engenharia Civil
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