Ponte de Pardais na Nova Linha de Évora – Aspetos de Conceção, Dimensionamento e Construção

PERSPETIVA GERAL DA OBRA ACABADA
A nova Ligação Ferroviária entre Évora Norte e Elvas / Caia, possui uma extensão de 78km, que engloba um total de 29 obras de arte especiais, perfazendo um comprimento total de 12.1km de viadutos e pontes. A Ponte de Pardais desenvolve-se entre os kms 170+545.343 e 171+330.343 do traçado, possuindo uma extensão total de 785m, atravessando a uma altura de até 40m o vale da Ribeira dos Pardais.
Condicionamentos Topográficos, Rodoviários e Ambientais
O principal condicionamento da obra é o atravessamento do vale da Ribeira dos Pardais.
O ponto inicial da ponte é condicionado pela intenção de manter uma estrada existente que atravessará inferiormente a ferrovia, sendo o ponto final condicionado pela modelação de vãos e pela minimização da altura dos encontros.
A DIA refere como principal condicionante para esta zona a minimização da afetação das explorações agrícolas existentes.
Condicionamentos Técnicos
O perfil transversal da obra de arte deverá comportar duas vias eletrificadas, uma delas em bitola ibérica, com travessas de betão polivalentes, assentes sobre uma camada de balastro com espessura mínima de 30 cm sob a face inferior das travessas.
A linha está prevista para tráfego misto, sendo as velocidades de projeto de 250km/h para passageiros e 120km/h para mercadorias.
Conforme decisão tomada pela IP, estão previstos tabuleiros independentes para cada uma das vias, de forma que a construção do empreendimento possa ser faseada, sendo que na primeira fase apenas se materializará uma via.
Condicionamentos Geológico-Geotécnicos
Em termos geomorfológicos, a área abrangida pela Ponte de Pardais insere-se na Peneplanície do Alentejo, caracterizada por relevos ligeiramente pronunciados com cotas altimétricas variando entre os 233m e 270m.
Ao longo do traçado da ponte, as sondagens executadas revelaram até cerca de 1,0m a 12,0m de profundidade solos de natureza areno-argilosa muito compactos (NSPT superiores a 60 pancadas) e xistos cinzentos muito alterados a decompostos (W4-5). Em profundidade surge o maciço rochoso xistento, medianamente alterado (W3) a pouco alterado (W2), com fraturas próximas (F4) a medianamente afastadas (F3).
Face ao panorama descrito, as fundações de todos os apoios da ponte são diretas, por sapatas, às profundidades onde ocorre maciço rochoso xistento, medianamente alterado (W3) a pouco alterado (W2), ressalvando-se contudo uma das fundações de arranque do arco onde se adotou uma solução de reforço de fundação com recurso a microestacas.
Condicionamentos de Dimensionamento Estrutural
A verificação da segurança estrutural foi em geral feita de acordo com os Eurocódigos e com as disposições das fichas UIC relevantes.
A quantificação das ações de tráfego nas obras de arte foi efetuada tomando como base a EN 1991-2 e os valores definidos nesse documento, tendo sido considerado o fator de importância a = 1,33.
Foram seguidas as recomendações da ficha UIC 774-3R e da EN 1991-2:2003 para o cálculo da interação via tabuleiro, de forma a controlar a tensão máxima e mínima nos carris e deslocamentos diversos entre elementos, tendo em conta a interação carril/balastro/tabuleiro.
Na conceção da ponte foram adotadas juntas na via, pelo que foram realizadas as seguintes verificações:
- Deslocamento horizontal máximo absoluto do tabuleiro de 30 mm (dabs < 30mm), para a ação da frenagem/arranque;
- Elevação máxima do topo do tabuleiro nas extremidades de 2 mm, de acordo com o ponto 6.5.4.5.2.(3) da EN1991-2.
Foram verificadas as exigências da ficha UIC 776-2R para a conceção de pontes ferroviárias, relacionadas com efeitos dinâmicos resultantes da passagem de comboios, de forma a analisar fenómenos de ressonância, determinar as acelerações verticais máximas do tabuleiro, determinar o incremento de esforços e deslocamentos na estrutura e determinar o nível de conforto no interior das carruagens, tendo em conta a interação comboio/via/tabuleiro.
Condicionamentos Construtivos
No caso vertente, refere-se como condicionamento principal a transposição da Ribeira dos Pardais, na qual são relevantes aspetos de natureza ambiental, hidráulica e geotécnica que condicionaram a tipologia e geometria dos cavaletes e cimbres para suporte das cofragens bem como as respetivas fundações.
Condicionamentos relativos à Durabilidade e Manutenção
A vida útil da estrutura foi estabelecida para uma categoria 5 segundo a NP EN 206-1 - DNA 5.3.1, correspondendo a um período de 100 anos, tendo sido adotadas classes de betões e recobrimentos de armaduras com vista à garantia deste requisito de durabilidade. (...)
Por João Martins, EDGAR CARDOSO
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