Intervenções de conservação e caracterização de amostras do Castelo de Paderne

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Uma vez que as construções históricas integram reconhecidamente valor cultural, histórico, tecnológico, arquitetónico e económico, a inexistência de manutenção preventiva e de intervenções de conservação adequadas ou intervenções incorretas constituem um perigo que se deve evitar. No entanto, para se definirem medidas de manutenção preventiva e conservação adequadas, é necessário ter conhecimento das características materiais das construções históricas, assim como do seu uso e exposição.
A taipa tradicional constitui paredes monolíticas, por sua vez produzidas por uma sucessão de grandes blocos correspondentes a taipais (cofragens) que iam sendo desmontados e remontados sucessivamente ao lado, até completarem um nível, depois de forma idêntica no nível acima e assim sucessivamente até atingirem o topo das paredes que se pretendiam construir. De cada vez, os taipais eram preenchidos por camadas de, por exemplo, 20 cm de terra húmida. Cada uma dessas camadas era compactada através de maços de madeira, reduzindo a respetiva espessura para cerca de metade, antes da introdução da terra húmida para a camada seguinte. Geralmente era usada terra local, que era escavada do solo, desterroada e humedecida antes de ser colocada dentro dos taipais. Utilizavam-se todas as frações granulométricas da terra; apenas se devia ter o cuidado de não deixar agregados muito grandes (pedregulhos) junto às faces dos taipais, colocando-os em zonas mais centrais das paredes.
Em construções defensivas, para aumentar a durabilidade aos agentes atmosféricos e, provavelmente, possibilitar uma execução rápida em grande altura, adicionava-se cal aérea à terra antes de ser humedecida. Essa taipa designa-se por taipa militar e nela existia uma rede de carbonato de cálcio, resultante da carbonatação da cal. Para a montagem e solidez dos taipais, constituídos por diversas peças, mas maioritariamente por dois painéis de cofragem colocados de cada lado da parede, era necessário manter os painéis na posição e verticalidades adequadas. Para isso era necessário colocar peças inferiores que atravessavam a parede a construir na base dos taipais e apertar esses mesmos taipais na parte superior. Aí eram usadas cordas, enquanto na parte inferior eram usadas agulhas, geralmente de madeira, que depois eram geralmente retiradas. Ao serem retiradas ficavam, por baixo de cada bloco de taipa correspondente a um taipal, dois furos que atravessavam a parede. Muitas vezes, em construções defensivas, as paredes de taipa eram revestidas pelo exterior com rebocos que simulavam grandes blocos de pedra e que, dessa forma, iludiam os inimigos. Isto porque o resultado do impacto de um projétil de canhão ou outro equipamento militar era diferente numa parede de pedra face a uma parede de taipa; a taipa conseguia um maior amortecimento do impacto, face à pedra. Na execução desses rebocos, preenchiam-se os furos que atravessavam as paredes. Quando os revestimentos se degradam, por vezes deixam ver de novo os furos ou a respetiva localização. Em determinadas construções históricas por vezes encontram-se vestígios das peças de madeira que atravessavam a parede sob os painéis, que não tinham sido retiradas. (...)
Autor Paulina Faria
CERIS, Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade NOVA de Lisboa
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