Construir ambientes saudáveis: estratégias para garantir a qualidade do ar interior

FOTO: LYCS ARCHITECTURE/ UNSPLASH
A Qualidade do Ar Interior (QAI) é um fator crucial para a saúde e o bem-estar dos ocupantes dos edifícios. Estudos mostram que, nos países desenvolvidos, as pessoas passam até 90 % do seu tempo em ambientes fechados, o que reforça a importância de garantir um ar saudável dentro dos espaços interiores. Uma QAI deficiente pode causar ou agravar problemas respiratórios e cardiovasculares, resultando em ausências no trabalho e custos de saúde consideráveis.
As habitações, em particular, são ambientes onde se espera segurança e conforto, uma vez que as pessoas passam uma parte significativa das suas vidas no seu interior. No entanto, embora os perigos externos sejam mais frequentemente associados a problemas de saúde, as residências, pela sua natureza, podem acumular substâncias nocivas que muitas vezes passam despercebidas.
Entre os principais poluentes do ar interior estão os compostos orgânicos voláteis (COV), libertados por materiais de construção e mobiliário. Estes compostos, em espaços mal ventilados, tendem a acumular-se e a expor os ocupantes a substâncias potencialmente tóxicas. Atividades quotidianas, como a confeção de alimentos e a limpeza, também desempenham um papel significativo na poluição do ar interior.
O uso de fogões a gás, por exemplo, pode libertar partículas finas e gases como o dióxido de azoto (NO2) e monóxido de carbono (CO), que, quando inalados em grandes quantidades, prejudicam a saúde respiratória. Mesmo atividades de confeção de alimentos comuns, como fritar e grelhar, produzem partículas em suspensão que podem afetar os ocupantes, especialmente em cozinhas sem ventilação adequada. Adicionalmente, fontes de combustão em casa como velas, incensos e lareiras, podem libertar partículas finas e gases tóxicos, que são frequentemente subestimados.
Em espaços com ventilação inadequada, essas fontes podem aumentar significativamente os níveis de poluentes no ar, agravando problemas respiratórios. Outro fator a considerar é o dióxido de carbono (CO2), que se acumula em casas com fraca ventilação, causando sintomas como fadiga, dores de cabeça e dificuldades de concentração.
Para além das fontes interiores de poluição, é fundamental considerar a infiltração de poluentes exteriores, especialmente em áreas urbanas. Nestes contextos, o ar exterior pode conter partículas, CO e outros gases resultantes da atividade industrial e tráfego automóvel. Assim, a localização e o planeamento das admissões de ar para o edifício durante a fase de projeto são essenciais. Já durante a ocupação, a ventilação natural através da abertura das janelas deve ser feita quando a concentração de poluentes exteriores é mais baixa.
A humidade excessiva é outro fator crítico, pois promove o crescimento de bolores, o que aumenta o risco de problemas respiratórios e alergias. Uma ventilação adequada é crucial para assegurar a QAI e a saúde dos ocupantes, sendo que a existência de caudais de ar insuficientes pode agravar não só a concentração de poluentes, mas também o desenvolvimento de humidade nas habitações.
Por S.M. Almeida1, M. Felizardo1, A. Gonçalves1, M.G. Gomes2
1 C2TN, DECN, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa
2 DEEC, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa
Leia o artigo completo na Construção Magazine nº 124 nov/dez 2024, dedicada ao tema "Edifícios modulares pré-fabricados em betão".
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