Entrevista a Luís Oliveira Santos

Luís Oliveira Santos coordena o Departamento de Estruturas do LNEC. Mestre em Engenharia de Estruturas e Doutorado em Engenharia Civil acompanha há quase trinta e cinco anos o desenvolvimento dos sistemas de instrumentação e as ferramentas tecnológicas que têm permitido monitorizar pontes de betão. Nesta entrevista, partilha a linha do tempo dessa evolução, fala do trabalho desenvolvido pelo LNEC, um dos mais conceituados laboratórios de engenharia civil do Mundo, e defende a urgência de modernizar a imagem dos engenheiros civis em linha com as potencialidades tecnológicas que a profissão oferece.

Entrevista por Mário Pimentel (FEUP) e Eduardo Júlio (IST)
Esta conversa decorre no âmbito do dossier temático da edição 126 e ainda com ligação ao Encontro Nacional de Betão Estrutural que teve lugar em Novembro de 2024 na Feira Internacional de Lisboa. Mário Pimentel e Eduardo Júlio foram, respetivamente, presidente da Comissão Organizadora e presidente da Comissão Científica do citado evento.
Fotografia por Carlos Saraiva

O engenheiro Luís Oliveira Santos fez todo o seu percurso académico no Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), com atividade ligada, sobretudo, às pontes de betão. Gostaríamos de uma breve descrição sobre esse seu percurso.

O meu percurso ligado às pontes começa em 1991. Na altura estava a fazer o Mestrado como estagiário de investigação, aqui no LNEC, e foi entendido como conveniente que eu me dedicasse às pontes, com enfoque na modelação do comportamento estrutural de pontes. Por essa altura estavam em construção várias obras notáveis, caso das pontes atirantadas do Algarve, no Guadiana e no Arade, e comecei aí com a atividade experimental visitando as obras durante a construção e participando nos respetivos ensaios de carga. Depois disso fui-me progressivamente integrando nesta atividade, participei em muitos ensaios de carga – já são mais de 80 – e comecei também a participar na monitorização de pontes. A primeira em que fui responsável foi uma pequena ponte com 115 metros de vão entre as margens do rio Angueira, em Trás-os-Montes, projetada pelo inspetor Manuel Gaspar, alguém do tempo do professor Edgar Cardoso. Depois disso participei na monitorização de várias obras, algumas desde a conceção e desde o seu plano de instrumentação, acompanhando-as ao longo do tempo.

Estive envolvido em várias obras aqui em Portugal, mas talvez destacasse a instrumentação da primeira ponte sobre o Rio Catumbela, em Angola, em 2009. Depois, uma outra sobre o Cuanza, no ano seguinte. E esse know how foi também alargado a Cabo Verde, na que era a ponte mais importante do país, com 100 metros de vão, que tinha sido destruída numa enxurrada num território que, normalmente, sofre secas prolongadas. Destacava também uma ponte atirantada na Argélia, concluída em 2024, que foi uma obra bastante interessante do ponto de vista da monitorização, dada a diversidade de equipamento que foi utilizado. Para além destas questões mais ligadas a obras concretas, recordo também um trabalho de investigação que, numa primeira fase levou ao meu doutoramento, e que teve a ver com a caracterização do comportamento diferido do betão em pontes, o que é particularmente relevante em pontes construídas por avanços sucessivos.

O âmbito da minha tese incidiu sobre duas questões centrais: a forma como deveriam ser tratados os dados experimentais de tração e de frequência, que depois permitiria serem usados no modelo de análise estrutural; depois, além do desenvolvimento desse modelo, envolveu a comparação com dados obtidos nessas obras ao longo dos anos. Esse trabalho foi bastante gratificante. Mais tarde tive oportunidade de me ir envolvendo num outro problema que começou a surgir, que foram as reações expansivas de origem interna no betão. Começou com o Viaduto Duarte Pacheco, já no início do século, mas nos últimos 10/15 anos tem aumentado de forma significativa o número de obras afetadas e foi necessário começar a estudar e a caracterizar o problema, percebendo a sua gravidade, os seus efeitos estruturais e, claro, a forma como se pode mitigar o problema. Quando ocorre não tem propriamente uma solução, mas há formas de mitigar os seus efeitos e, nessa medida, tem sido também um desafio bastante interessante. Para além disso, não sendo tão específico das pontes, sinto-me privilegiado por poder assistir à evolução do próprio sistema de monitorização e das ferramentas associadas.

Qual a missão que o LNEC desempenha na gestão e observação de obras de arte e o que assinalaria neste âmbito?

O LNEC tem, desde a origem, uma ligação à construção de pontes em Portugal. Algumas encerram histórias notáveis como a concessão da Ponte da Arrábida na década de 60 e a “nos últimos anos tem havido um grande investimento na parte da deteção automática de dano” – luís oliveira santos construção da Ponte 25 de Abril, na altura Ponte Salazar. Em termos genéricos, o LNEC tem tido um papel de acompanhamento da construção de obras particularmente importantes, seja do ponto de vista económico, seja por serem inovadoras no seu processo construtivo ou nos materiais usados.

No período da grande expansão construtiva dos anos 80 e 90 havia um aspeto crítico, que era a pouca experiência no país na construção de pontes por avanço. Na altura tinha muita relevância a questão do comportamento diferido do betão. Houve várias pontes instrumentadas nessa altura em que existia uma grande preocupação para verificar até que ponto o comportamento da obra ao longo do tempo seria relevante. Essa parte da construção era depois seguida pela realização do ensaio de carga no final da construção. Havia também um número superior de obras, nomeadamente nas autoestradas, que não sendo acompanhadas durante a construção, eram ensaiadas no seu final. A parte da monitorização e dos ensaios de carga mantém-se até hoje.

Nos últimos anos passou também a haver solicitações para obras existentes com problemas, em que é feita a monitorização para perceber até que ponto o problema se está a agravar, ou para ver até que ponto a solução usada para mitigar o problema está a ser eficiente. Para além disso, o LNEC tem uma ação relevante do ponto de vista da inspeção de obras de arte. Essa ação tem-se caracterizado numa colaboração importante com a Infraestruturas de Portugal e também damos apoio a municípios. (...)

Leia a entrevista completa na Construção Magazine nº126 mar/abr 2025, dedicada ao tema "Pontes".

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