Construções Icónicas em Madeira (2): As “pontes de peões” em madeira japonesas

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Inicia-se neste artigo uma “viagem” ao Japão e a algumas das construções icónicas em madeira existentes neste país.
O autor apenas esteve no Japão uma vez, em 2008, mas essa viagem foi suficiente para perceber a ligação especial que o seu povo tem com as árvores, a água e a natureza em geral.
Neste artigo apresentam-se alguns exemplos de pontes de peões em madeira.
As árvores e a madeira na cultura japonesa
A designação japonesa Kodama quer dizer “a alma de uma árvore e o seu eco”. A designação Hoshira quer dizer “a alma de uma pessoa de elevada posição” mas também “estacas de madeira provenientes de uma árvore antiga e de grande porte na qual um Deus existe”.
Existe no Japão uma grande ligação entre as árvores e as florestas em que se inserem e a tradição e práticas xintoístas. Os templos budistas e os santuários xintoístas ainda hoje são rodeados de florestas ancestrais geridas pelos ocupantes (monges) desses locais, num total de 208.000 ha, cerca de 0,55% do território japonês.
À entrada de cada santuário ou templo existem sempre árvores grandes e antigas, muitas delas com mais de 1000 anos de idade, o que encontra justificação na visão e papel místicos que os religiosos japoneses dão às árvores (com destaque para 15 espécies consideradas como mais “nobres” que as outras) e às florestas, algumas delas consideradas “sagradas”, locais onde em geral foram erigidos santuários xintoístas.
Neste contexto, é possível referir que as árvores, mas também a madeira que a partir delas é produzida, representam um papel fundamental na cultura japonesa, associadas a uma função muito especial que, desde as manifestações de carácter religioso mais antigas deste povo, sempre ocuparam nos seus usos e costumes.
Pontes de peões em madeira no Japão
Tradicionalmente, no Japão antigo a maior parte das deslocações eram feitas a pé. Tal deve-se sobretudo ao facto de o Japão ser um território muito montanhoso e coberto em larga escala por florestas, entrecortadas por muitos vales e rios com todo o tipo de regimes hidráulicos.
Não havia, assim, muitas estradas e, nesse contexto, o Japão desenvolveu sobretudo no período EDO (1603-1868) muitas pontes pedonais em madeira, integradas nas principais vias que ligaram na altura o país de norte a sul, com destaque para a ilha central mais populosa (Honshu), onde se situam as principais cidades modernas e antigas da civilização japonesa (Tóquio, Osaka, Kyoto, Kobe, Nagoia, entre outras).
Para atravessar os rios, contornar obstáculos e encurtar distâncias foram construídas muitas pontes pedonais em madeira, usando em geral madeiras locais. Muitas dessas pontes são hoje consideradas património construído japonês e constituem, em geral, a principal atracção turística dos locais onde se inserem. (...)
Membro do Conselho Científico da Construção Magazine / Professor na FEUP
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