Qualidade do ar interior em edifícios de habitação - caracterização in situ em Portugal

FOTO FRANZ 26/ PIXABAY
Qualidade do ar interior e sua relação com a saúde dos ocupantes
A qualidade do ar interior (QAI) em edifícios habitacionais é uma preocupação crescente a nível global. A exposição contínua a poluentes do ar interior é frequentemente negligenciada apesar de poder ter consequências graves para a saúde das pessoas, sendo um dos fatores de risco mais significativos para doenças respiratórias, cardiovasculares e neurológicas. A preocupação intensifica-se à medida que as população se urbaniza e a construção de edifícios cada vez mais eficientes do ponto de vista energético se torna uma tendência, podendo, no entanto, contribuir para a diminuição das taxas de renovação do ar e consequentemente da ventilação.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em cada ano, morrem prematuramente 3,2 milhões de pessoas de doenças atribuídas à poluição do ar doméstico causada pela combustão incompleta de combustíveis sólidos e querosene utilizados para cozinhar. As partículas e outros poluentes presentes no ar doméstico estão na origem da inflamação das vias respiratórias e dos pulmões, prejudicando a resposta imunitária e reduzindo a capacidade de transporte de oxigénio do sangue a todo o corpo. É necessário estar consciente que, em todo o mundo, cerca de 2,1 mil milhões de pessoas ainda cozinham utilizando combustíveis sólidos (como madeira, resíduos de culturas, carvão vegetal, hulha e estrume) e querosene em fogueiras abertas e fogões ineficientes [3], existindo uma grande discrepância, no acesso a alternativas de cozinha mais limpas, entre as zonas urbanas e rurais. Em 2021, apenas 14 % das pessoas nas zonas urbanas dependiam de combustíveis e tecnologias poluentes, em comparação com 49 % da população rural global.
Conforme exposto, a poluição do ar no interior de habitações pode ter origem na utilização de combustíveis e tecnologias ineficientes e poluentes tanto no interior, como no exterior das mesmas. Os referidos produtos de combustão contêm uma variedade de elementos prejudiciais à saúde, incluindo partículas finas e muito finas que têm a capacidade de penetrar profundamente nos pulmões e entrar na corrente sanguínea, além dos gases asfixiantes monóxido e dióxido de carbono.
Em habitações mal ventiladas, o fumo interior pode ter concentrações de partículas finas 100 vezes superiores ao aceitável. A exposição é particularmente relevante no caso das mulheres e as crianças, que passam mais tempo no lar. Além disso, a exposição a outros poluentes interiores como o fumo do tabaco, formaldeído, agentes biológicos, compostos orgânicos voláteis e radão também contribui significativamente para doenças respiratórias e cardiovasculares. Relativamente a componentes químicos capazes de poluir o ambiente doméstico, Rosenbaum et al listaram nos seus estudos 947 componentes.
A nível global, nem todos os impactes e ações de mitigação são semelhantes. A União Europeia, com as suas diretrizes e regulamentações sobre a qualidade do ar interior, tem liderado as ações em termos de monitorização e controlo da poluição do ar interior. Em dezembro de 2002, é publicada a Diretiva 2002/91/CE do Parlamento Europeu e do Conselho relativa ao desempenho energético dos edifícios. Portugal foi pioneiro na transposição desta Diretiva e em 2006 publicou três diplomas legais que previam as auditorias à QAI e estabeleciam valores de referência para os poluentes do ar interior.
Esta Diretiva foi sucessivamente alterada e em 2018 a Comissão Europeia estabeleceu uma nova Diretiva para reduzir a exposição a substâncias perigosas dentro dos edifícios, incluindo o amianto, além de incentivar o uso de tecnologias mais limpas nos sistemas de ventilação. (...)
Autores
João Lanzinha, Professor Associado da UBI, responsável pelo LABSED e investigador do C-MADE | Centre of Materials and Civil Engineering for Sustainability
Manuel Pinto, Professor Coordenador da ESTGV e investigador do C-MADE | Centre of Materials and Civil Engineering for Sustainability
Manuela Cano, Responsável pelo Laboratório Qualidade do Ar do INSA - Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge
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