A descarbonização da construção em betão

Com o presente número somamos 90 edições da revista Construção Magazine, 79 dos quais da minha responsabilidade. Pese embora este seja um trabalho que desenvolvo com muito agrado, considero que a renovação é útil e necessária. Assim, propus à editora que, em 2020, lance um concurso de ideias, dirigido a jovens engenheiros e arquitetos, ligados à Academia e/ou à Indústria, para se iniciar um projeto novo a partir do N.º 101. Caro leitor, se é um apaixonado pela área da Construção e tem uma ideia bem definida e inovadora para o futuro da Construção Magazine, fique atento.

A descarbonização do sector do betão é um tema da maior importância, não só pelas razões de sustentabilidade ambiental, que todos hoje sobejamente conhecemos, mas também por razões de sustentabilidade económica. Com efeito, muito em breve as emissões de CO2 passarão a ser taxadas e as cimenteiras, à semelhança de outras indústrias, terão de comercializar o seu produto com um custo acrescido, a menos que reduzam significativamente as suas emissões, estando assim em jogo nada menos do que a sua afirmação no mercado internacional ou a sua extinção.

É importante salientar que as cimenteiras nacionais estão na vanguarda da tecnologia e detêm uma ligação muito forte e de longa data ao sistema científico nacional e internacional. O objetivo deste número é precisamente dar a conhecer o que de mais extraordinário está a ser desenvolvido por um ‘cluster’, não formalizado, que mobiliza a Cimpor e a Secil, através da ATIC, e cinco centros de investigação do Técnico, em torno do tema da descarbonização deste setor, em todas as fases do ciclo de vida do betão, desde a extração da matéria-prima, passando pela produção do cimento e pela construção de estruturas, até à reciclagem dos resíduos de construção e demolição. Estou certo que os leitores ficarão fascinados com os projetos que a equipa do Prof. João Bordado desenvolveu com a Secil, como um combustível alternativo de ‘madeira líquida’ ou a captação e injeção de CO2 no mar, em recifes artificiais, para produção de algas que podem ser usadas como fertilizante, ou com os projetos que a equipa do Prof Rogério Colaço desenvolveu com a Cimpor, dos quais se destaca um novo cimento, que permite uma redução significativa da temperatura dos fornos, o que só por si pode fazer toda a diferença no contexto da sustentabilidade ambiental e da competitividade económica.

Como habitualmente, faço votos que a leitura deste número seja do agrado dos nossos leitores e que constitua mais uma evidência do que de melhor se faz em Portugal, mais um exemplo do enorme potencial das sinergias indústria-universidade, mais um caso de desenvolvimento tecnológico de ponta e de inovação no setor da Construção e, não menos importante, mais um contributo para desfazer o mito de que o betão não é um material ambientalmente sustentável.

Construção Magazine nº 92

Eduardo Júlio

Membro do Conselho Científico da Construção Magazine / Professor no IST

Se quiser colocar alguma questão, envie-me um email para info@construcaomagazine.pt

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