Entrevista a Vitor Abrantes

Vítor Abrantes fala-nos da dificuldade em ter projetos de qualidade por causa do estrangulamento dos preços, e da forma como isso se reflete na obra, numa conversa que passou também pelas formas de suprir carências habitacionais – em disponibilidade e qualidade.

Entrevista e fotografia por Cátia Vilaça

Quais os elementos mais importantes para garantir um bom projeto, que depois não cause problemas na fase de obra, em contexto de reabilitação e de construção nova?

No contexto de construção nova, os aspetos mais importantes, às vezes aqueles que levantam mais dificuldades, têm a ver com saber verdadeiramente o que o dono de obra pretende. Muitas vezes, os dados do que pretende não são perfeitamente definidos em termos de áreas, em termos de tipologias, etc. Depois há sempre problemas que se levantam com o fornecimento de tudo o que é infraestruturas, levantamentos, etc., também por parte do dono de obra, sejam Câmaras, sejam privados, mas o problema põe-se mais com as entidades públicas. O dono de obra, infelizmente, está cada vez mais a passar isso para o projetista.

Se isso acontece mais a nível das obras públicas, não poderia haver uma melhoria ao nível dos concursos para detalhar melhor esses aspetos?

Agora há uma abertura de concursos enorme, principalmente por causa do Plano de Recuperação e Resiliência, que tem no setor da habitação uma componente muito grande, e, portanto, todas as Câmaras estão envolvidas nisso, a tentar aproveitar ao máximo esses fundos e a lançar concursos diários, para construção nova ou para reabilitação, mas mais para construção nova, até. Vou dar um exemplo: pedindo tudo isto que estou a dizer, coloca-se como preço base 100 mil euros para os projetos todos. No último concurso a que fomos, quem ganhou, ganhou com trinta e poucos mil euros. Nós também já ganhámos alguns, apresentando à volta de 60 % do valor base, e não corre como devia correr, não há milagres, com projetos de uma exigência cada vez maior. Nem sei porque colocam um preço base e depois aceitam valores desta ordem. Até determinada altura, na maior parte dos concursos, o preço mínimo admissível era 50 % do base. No último concurso a que fomos, nestes valores que referi, a proposta vencedora ganhou com 30 mil euros e havia vários concorrentes ali próximo. Tudo é possível de fazer, mas a qualidade…

Quando isto acontece, de que forma estes problemas passam do projeto para a obra?

Os problemas passam do projeto para a obra porque se o projeto é esmagado, se não é reconhecido interesse em fazê-lo bem - quem paga assim não reconhece isso -, o projeto aparece com deficiências. Há deficiências com os cadernos de encargos, depois há deficiências nas ligações entre os vários projetos, essa coordenação é das coisas mais complicadas, e dão-se coisas bizarras. Acontece com todos. (...)

Leia a entrevista completa na Construção Magazine nº119 jan/fev 2024, dedicada ao tema 'A Qualidade da Construção'

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