Construção atravessa problema de mão de obra “mais grave de sempre”

O Sindicato da Construção de Portugal disse que o setor enfrenta a “situação mais grave de sempre” de mão de obra e apontou que 70 por cento dos estrangeiros que chegam ao país para a construção civil não têm experiência.

“Não tenho nada contra os trabalhadores estrangeiros, mas cerca de 70 por cento dessa mão-de-obra não é aquela o nosso país precisa, muitos desses trabalhadores nunca trabalharam no setor da construção civil e não é este tipo de mão-de-obra que Portugal quer para as grandes obras”, afirmou o presidente da Direção do Sindicato da Construção de Portugal, Albano Ribeiro, em declarações à agência Lusa.

O dirigente sindical sublinhou que são necessárias medidas urgentes “para acabar com a situação mais grave de sempre no setor da construção civil” e adiantou que a estrutura vai pedir ainda hoje [26 de outubro] uma reunião com a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, para abordar a questão do aumento dos trabalhadores informais no setor, que “retira milhões de euros” à Segurança Social.

“Eu oiço falar muito na televisão, governantes a encher a boca a dizer que vão construir isto, estas infraestruturas, aquelas, hospitais, estradas, caminhos-de-ferro. Não há trabalhadores para construir isso. Já não falo no aeroporto de Lisboa, que são precisos cerca de 20 mil trabalhadores”, realçou Albano Ribeiro.

O sindicato disse que a economia informal está a “tomar conta” do setor da construção civil, devido às redes de angariação de mão-de-obra, que classificou de “redes mafiosas”, que trazem rapidamente para o país trabalhadores oriundos de vários pontos do mundo, que “trabalham à hora, ou à peça, ou não descontam nada, ou descontam 15 dias por mês para a Segurança Social”.

“Esses trabalhadores, muitos deles, ficam nas mãos deles [dos angariadores], muito deles até lhes ficam com os passaportes e comem e dormem em espaços que não são para seres humanos, é lamentável que em pleno século XXI nós estejamos perante uma situação destas”, referiu o sindicalista.

Para o sindicato, uma das formas de combater esta questão passa por facilitar a vinda de estrangeiros que são formados pelas empresas de construção nos países de origem, nomeadamente Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, mas cujo processo para os trazer para Portugal é moroso.

Adicionalmente, prosseguiu, é necessário que a Autoridade para as Condições do Trabalho e o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras atuem por todo o país, fiscalizando as pequenas obras, bem como apostar em centros de formação deste tipo de trabalhadores.

“À medida que a mão-de-obra vai envelhecendo no setor, não há trabalhadores a ser formados aqui, não há nenhuma entidade a formar operários, antigamente havia em todas as capitais de distrito um centro de formação, hoje não há nenhum”, apontou Albano Ribeiro.

Segundo o sindicato, nos últimos seis anos saíram do país cerca de 300 mil trabalhadores da construção civil, dos quais 16 mil são engenheiros civis.

Para combater esta saída de mão-de-obra qualificada, o sindicato propõe que o salário de um carpinteiro, por exemplo, passe dos atuais 780 euros mensais para 950 euros, e que o de um engenheiro recém-formado passe dos atuais 1 100 euros para 1 300 euros.

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