Risco sísmico nas escolas do 1º ciclo do Algarve e Huelva: avaliação, reabilitação, educação e comunicação do risco

As escolas, com a sua elevada concentração de pessoas num espaço confinado e com relativo pequeno rácio de adultos por criança, tornam-se locais bastante vulneráveis aos sismos, merecendo por isso uma maior atenção e estudos relacionados com estes eventos. A avaliação da segurança sísmica de escolas é de grande importância para a sociedade, atendendo às graves consequências de um eventual colapso deste tipo de edifícios, ou mesmo meramente em resultado de danos não estruturais. Neste contexto, o projeto PERSISTAH tem como principais objetivos a avaliação da segurança sísmica das escolas do 1º ciclo do ensino básico existentes nas regiões do Algarve (Portugal) e de Huelva (Espanha), e o estudo de medidas de reabilitação sísmica das tipologias existentes nestas regiões, bem como criar ferramentas de educação e comunicação de risco para crianças e professores.

Foi desenvolvido um programa informático que possibilita a avaliação do estado de dano provável em consequência de uma determinada ação sísmica, recorrendo aos métodos de análise não linear que estão preconizados no Eurocódigo 8. Também estão a ser estudadas possíveis soluções de reforço sísmico para as tipologias que apresentam pior desempenho sísmico, em virtude das características de vulnerabilidade e níveis de ação sísmica para o local de implantação (contemplando a possível amplificação das vibrações associadas a efeitos de sítio).

O papel das escolas

O colapso em 2002 de uma escola primária em San Giuliano di Puglia (Itália), após o sismo de Molise (ML=5.4), provocou a morte a 27 crianças e uma professora. Este acontecimento teve um grande impacto na opinião pública desse país, o que levou a que o governo italiano promovesse a revisão do regulamento sísmico de então. Este é o tipo de exemplo do impacto que um sismo pode induzir em edifícios antigos, designadamente porque ele foi sujeito a inúmeras intervenções ao longo do tempo, sendo que a última intervenção de “reabilitação” (sem qualquer reforço sísmico) foi realizada somente seis meses antes da ocorrência do sismo e consequente colapso [1, 2].

Infelizmente, existem muitos mais exemplos de danos em equipamentos escolares, pelo que tudo indica que este tipo de edifícios é vulnerável à ação dos sismos, designadamente em função das suas especificidades [3]. Por esse motivo, é de grande importância uma avaliação rigorosa da vulnerabilidade de cada edifício, que permita conhecer o risco sísmico destas construções, pois tal deve ser uma preocupação das sociedades modernas, dado que as crianças são o futuro das nações.

Os equipamentos escolares, tal como os equipamentos desportivos, normalmente servem de abrigo após uma catástrofe, representando a sua perda uma redução da resiliência de determinada área afetada. Por outro lado, o uso das escolas no pós-sismo como função de abrigo gera um outro problema: não pode ser demasiado prolongada por ter associada uma interrupção indeterminada do ensino, causando um maior impacto nas crianças e comunidade [4].

Neste contexto, os principais objetivos do projeto PERSISTAH (Projetos de Escolas Resilientes aos SISmos no Território do Algarve e de Huelva) [5] são o desenvolvimento de uma aplicação informática que permita a avaliação da segurança das escolas de 1º ciclo existentes nas regiões do Algarve (Portugal) e de Huelva (Espanha); a elaboração de um Manual de Reabilitação (recomendações direcionadas para os técnicos ligados à construção); o desenvolvimento de um Guia Prático Escola Resiliente (com vista a informar sobre zonas de maior risco não-estrutural, no interior e exterior dos edifícios, e procedimentos de atuação antes, durante e após um evento); o desenvolvimento de recursos e atividades que promovem a educação e comunicação de risco na comunidade educativa.

Foi feito um levantamento de todas as escolas do 1º ciclo existentes nas duas regiões em estudo, que foi introduzido numa base de dados desenvolvida especialmente para o efeito (Figura 1). Cada escola está georreferenciada, e foi associada a um país, a uma região, a um município, a um tipo de terreno de fundação (o que permite determinar automaticamente a ação sísmica para cada local), a uma tipologia (e a uma eventual subtipologia desta), e a um conjunto de fotografias, para facilitar a gestão de toda a informação recolhida. A aplicação informática desenvolvida permite a exportação automática desses dados, e também dos resultados das análises sísmicas, numa escala de cores, para o Google Earth.

Autores:

- João M.C. Estêvão (Departamento de Engenharia Civil, ISE, Universidade do Algarve)

jestevao@ualg.pt

- Mónica Amaral Ferreira (ISE, Universidade do Algarve/CERis, Instituto Superior Técnico, Portugal)

monicaf@civil.ist.utl.pt

- Antonio Morales-Esteban (Departamento de estructuras de edificación e ingeniería del terreno. Universidad de Sevilla. España)

ame@us.es

- Luis Fazendeiro-Sá (Autoridade Nacional de Proteção Civil)

luis.sa@prociv.pt

- Carlos Sousa Oliveira (CERis, Instituto Superior Técnico, Portugal)

csoliv@civil.ist.utl.pt

Artigo publicado na edição nº91 da CM

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