O caminho para a construção sustentável ainda se faz de incerteza

Por Cátia Vilaça

O caminho para a construção sustentável foi o mote do seminário organizado pela APCER no dia 5 de maio, no Porto.

Os materiais e processos (e respetivas certificações) ocuparam parte do seminário, com Pedro Fernandes, Climate Change Business Developer da APCER, a relembrar a preocupação com a escassez de matérias-primas e a consequente criação de normas europeias como Regulamento Anti-Desflorestação, o Passaporte Digital de Produto e o Regulamento para evitar o greenwashing.

Relativamente à desflorestação, o tema da madeira dominou a Mesa-Redonda sobre materiais sustentáveis, com Joana Faria, da FSC Portugal, a destacar a recente criação do conceito de certificação de projeto, que passa a dar uma resposta onde a certificação da cadeia de custódia não chegava.

João Gama Amaral, Presidente do Colégio Nacional de Engenharia Florestal da Ordem dos Engenheiros, escolheu destacar os desafios inerentes a estar na base do projeto, ou seja, na origem da matéria-prima. O engenheiro florestal alertou para o “perigoso desequilíbrio de sustentabilidade” em que incorremos com as alterações climáticas e reforçou a necessidade de retirarmos da floresta sempre menos do que aquilo que é produzido anualmente. Para Gama Amaral, é a indústria que tem de responder ao ativo florestal e não o contrário (ideia que reiterou quando confrontado, no período de debate, com as preocupações da indústria face à falta de matéria-prima). O engenheiro frisou que nem toda a indústria irá encontrar resposta nesta floresta, situação que pode ser resolvida com recurso à inovação. Deu como exemplo o CLT, capaz de dar valor à menor dimensão.

Para Ricardo Camacho, coordenador da Comissão Técnica de Sustentabilidade da Ordem dos Arquitetos, a questão da sustentabilidade não tem sido olhada com a abrangência necessária. Para que a mudança do paradigma linear para o circular aconteça, é necessário mudar os processos, não só de construção, mas também antes de projetar e depois de construir. Para Camacho, falta interligação entre os setores, exemplificando que “quem faz os PDM não tem conhecimentos de floresta”. O arquiteto defende uma maior preocupação com a origem dos materiais, a forma como são extraídos e as condições de trabalho. Chamou ainda a atenção para alguns erros que podem ser cometidos se os fatores não forem vistos em conjunto, como uma reutilização prejudicada se não se atender ao ecodesign na conceção de materiais mistos.

José Saporiti Machado, do LNEC, destacou a construção prefabricada como um caminho para a sustentabilidade, sobretudo no que se refere a colmatar a falta de mão-de-obra para processos mais tradicionais. Insistiu também na ideia da sustentabilidade técnica, ou seja, de tornar a regulamentação de fácil leitura, e na necessidade de ligar os setores, seguindo o que acontece na pasta e papel, um setor onde a indústria e a floresta têm uma relação forte.

Maria Portela Barral partilhou com a audiência a sua experiência na Plataforma de Engenharia da madeira Industrial, um laboratório da Universidade de Compostela onde se fazem ensaios e desenvolvimento de produtos.

O evento, que contou ainda com uma Mesa-Redonda onde representantes da Costa Almeida Ambiente e do grupo MCA partilharam a sustentabilidade das suas práticas, surge num contexto em que o setor da construção civil aumentou globalmente as suas emissões de CO2 para 10 gigatoneladas.

Com a OCDE a estimar que os edifícios construídos nos países desenvolvidos sejam responsáveis por mais de 40 por cento do consumo de energia ao longo da vida e por 36 por cento das emissões totais de gases com efeito de estufa, atingir as metas de descarbonização de 2050 é uma meta que exige um esforço crescente.

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