A Estrutura Metálica em Portugal no ano 2017. E em 2027?

A Coluna "Estruturas Metálicas", é publicada nos números ímpares da Construção Magazine. No número 81 foi abordado o tema da estrutura metálica em Portugal.

Introdução

Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro” - a frase de Heródoto resume o objetivo deste artigo, onde inicialmente vai ser realizado um breve resumo da evolução da construção metálica em Portugal nos últimos vinte anos. Posteriormente, apresenta-se a visão do autor sobre aquilo que poderá acontecer no setor, nos próximos anos. Este exercício, para de além de poder ter omissões na descrição do passado e presente, é acima de tudo uma visão do seu autor para o futuro, não devendo ser entendido como uma verdade tácita, mas sim como inspiração para que os outros possam pensar naquilo que vão ser os novos desafios.

Resumo dos últimos vinte anos

Apresentam-se seguidamente as principais alterações no projeto, fabrico e montagem de estruturas metálicas, ocorridas nos últimos anos. No final é apresentada a evolução financeira do setor em Portugal.

Na área do projeto estrutural e detalhe de construção metálica, o desenvolvimento de programas informáticos de cálculo com elementos finitos e o surgimento de programas de modelação tridimensional para detalhe permitiram uma redução significativa do tempo de execução das tarefas, graças à automatização dos processos que antigamente eram manuais. Esse desenvolvimento também aumentou a qualidade de execução dessas mesmas atividades, muitas das vezes sujeitas a erro humano.

O trabalho realizado no desenvolvimento de códigos que regulamentam a atividade de projeto, pelos centros de investigação, permitiu a criação de soluções estruturais mais arrojadas, com a necessária segurança.

Mais recentemente, o surgimento e desenvolvimento da tecnologia BIM “Building Information Modeling” permitiu que diferentes intervenientes, nomeadamente os ligados ao projeto de estabilidade e os ligados ao detalhe de construção, realizassem as suas atividades sobre a mesma plataforma, com claras vantagens para ambos e, acima de tudo, para a qualidade dos projetos que delas resultam. Essa plataforma permite a geração, gestão e armazenamento de todas as informações de uma construção num modelo informático.

Na área do fabrico, o desenvolvimento dos processos de corte, furação de chapas e perfis, a soldadura e também robotização desses mesmos processos permitiram uma redução do tempo de fabrico, aumento da qualidade e, claro está, uma redução do custo final. No entanto, a rentabilidade da robotização da soldadura está muito condicionada pela existência de muitas peças idênticas ou soldaduras lineares (ver figura 1), uma vez que a programação da soldadura é um processo moroso. Hoje em dia, a prefabricação é uma das grandes vantagens da construção metálica face à construção tradicional em betão armado.

Dentro das atividades realizadas em fábrica, o desenvolvimento de sistemas anticorrosivos com grandes durabilidades foi um enorme progresso. O surgimento das proteções antifogo resolveu um problema antigo da construção metálica. No entanto, a resistência obtida face ao seu custo faz perder competitividade da solução metálica versus solução de betão.

O surgimento de referenciais de qualidade, que uniformizem a atividade de produção de estruturas metálicas, como por exemplo a EN1090, obrigou ao incremento significativo da qualidade nas empresas do setor.

No transporte, a dimensão dos elementos deixou de ser um dos fatores mais condicionantes na definição de uma estrutura. Hoje é perfeitamente possível transportar por terra ou via marítima elementos de grandes dimensões, mas deve ser avaliado o seu custo.

Na montagem, o desenvolvimento dos ligadores (ex: parafusos, rebites) permitiu uma união eficaz dos elementos transportados e uma redução muito significativa do tempo/custo da atividade, dado que as ligações em obra passaram a ser praticamente todas aparafusadas em vez de soldadas.

Em Portugal, durante vários anos houve um clima de crescimento do setor da construção, o que impulsionou o setor metalomecânico, tendo muitas das empresas sobredimensionado a sua capacidade de produção em máquinas e homens.

No entanto, nos últimos anos houve uma redução deste setor, o que obrigou as empresas que estavam fortemente equipadas a internacionalizar-se, por um lado e, por outro, a diversificarem as suas soluções.

Os próximos 10 anos…

O setor metalomecânico português chega aos nossos dias com alguma internacionalização, com alguma capacidade e experiência, mas constituído essencialmente por pequenas e médias empresas, com baixa dimensão quando comparadas com outras empresas mundiais do mesmo setor, tirando honrosas exceções.

Dadas as baixas taxas de crescimento mundial, é previsível que setor da construção (ex: pontes, estádios) não tenha grandes valores de crescimento.

Existindo no mundo cada vez mais políticas separatistas e individualistas (Ex: Reino Unido, EUA, etc.), é previsível que nestes países surjam movimentos de industrialização, abandonados anteriormente devido a políticas de globalização.

Assim, não existindo no setor metalomecânico grandes empresas, soluções de “nicho” podem ser muito interessantes e, conforme foi explicado anteriormente, podem surgir oportunidades, caso se tenha a solução certa, no local certo, à hora certa. A maioria das empresas começa com soluções de nicho antes de se tornar grande.

O setor industrial, da energia e do mar são áreas que aceitam muito bem soluções de “nicho”.

Os clientes destes setores normalmente não pretendem a divisão de especialidades, adjudicando soluções completas, ou parcialmente completas. Assim, por um lado, o domínio da cadeia de valor de uma dada solução é obrigatório, e por outro as exigências de qualidade e manutenção são elevadas. Os clientes não pretendem só o fabrico de uma dada solução, como era habitual. O cliente pretende o projeto, o fabrico, a montagem e a manutenção. Estruturas industriais com elevados níveis de degradação estrutural que possuam sistemas de monitorização estrutural (ver Figura 3) e previsão de manutenção têm grandes vantagens.

Quem primeiro dominar a cadeia de valor de uma dada solução tem vantagem.

Ainda no que concerne ao domínio da cadeia de valor de uma solução, não é possível às empresas metalomecânicas serem competitivas em vários subprodutos de uma dada solução, sendo assim previsível uma forte especialização das empresas e a consequente subcontratação das restantes atividades. A subcontratação, juntamente com a política de rastreabilidade, vão tornar os programas informáticos de controlo de produção essenciais (ver Figura 4), um papel semelhante ao ocupado pelos programas informáticos de detalhe nos dias de hoje.

A soldadura é um dos processos mais onerosos no fabrico, com a agravante de que será sempre um processo com elevado controlo de qualidade. Apesar da existência de alguma robotização do processo de soldadura, esta automatização ainda fica aquém daquilo que se pretende.

As abordagens de soluções para ligações que prescindam de soldadura serão seguramente uma área de grande desenvolvimento. É o caso de novos sistemas de ligadores com soluções que não necessitem de soldadura mesmo em fábrica - parafusos especiais, colas, rebites.

Na área de tratamento de superfícies, as proteções antifogo terão um grande desenvolvimento, não só pela investigação de novos produtos mais económicos, como pelo estudo do comportamento real destas estruturas sobre estas ações.

Conclusão

Neste artigo procurou-se fazer um relato do passado e do presente da construção metálica. Tentou-se igualmente olhar para o futuro, dando indicações (ex: criação de soluções para mercados de “nicho” dentro do setor da energia, indústria e mar) e perspetivando tendências (ex: dominar a cadeia de valor de uma solução do projeto à manutenção, controlando ao máximo o processo da qualidade) que contribuam para o crescimento mais acelerado de um setor tão importante para Portugal.

Coluna da autoria de Filipe Santos, Administrador Vesamgroup

Fotografia por Serge Kutuzov / Unsplash

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