Entrevista a António Carlos Rodrigues

António Carlos Rodrigues faz uma reflexão sobre o posicionamento que a construção deve assumir face às atuais exigências económicas, ambientais e de digitalização.

Entrevista por Cátia Vilaça | Fotografia D.R.

A resposta a esta crise económica pós-pandémica por parte da Europa foi muito diferente daquela a que tínhamos assistido na crise anterior, em 2011. O Mecanismo de Recuperação e Resiliência é a face mais evidente dessa mudança de abordagem. Tendo em conta que a construção se ressentiu muito da crise anterior, de que modo esta alteração de abordagem por parte da Europa se reflete no setor?

Há uma mudança na política da Europa como um todo, que visa reforçar o papel da Europa de uma forma mais interconectada. Cada um dos países sempre teve a capacidade, de uma forma individual, de estabelecer múltiplas conexões com outras partes do mundo. Mas isso também fez com que a Europa perdesse alguma dessa interconexão. Estas políticas, e o próprio New Green Deal, têm um duplo objetivo: por um lado, fazer um caminho para uma economia mais verde, mas por outro, criar um ecossistema de negócios debaixo de um conjunto de princípios, de valores e com um modus operandi que tem uma agenda verde por trás, mas que vai permitir criar um ecossistema por um lado mais fechado, mas, por outro, mais coeso.

Acho que a Europa tem, neste momento, uma política positiva no que podem ser as relações entre países. Isso vai fazer com que tenha de investir em algumas infraestruturas e em capacidade produtiva dentro do próprio espaço europeu. No que toca à construção, isso vai fazer com que haja crescimento no fabrico de produtos e componentes, porque aquilo que vem de fora, nem que seja só pela componente do transporte, já vai ter uma implicação na questão do carbono. Como são países que não estão a fazer, muito provavelmente, uma transição energética tão acelerada como a europeia, também vão ter essa pegada embebida.

Há aqui uma perspetiva de investimento no setor industrial, no setor das infraestruturas, porque para isso também precisamos de melhorar portos e ferrovia. A ferrovia porque é o meio de transporte mais sustentável que existe, principalmente para grandes volumes e pesos, a nível terrestre. Depois, só temos a via marítima.

Além disso, se olharmos para o património edificado da habitação, há também uma necessidade de transição energética. Diria que a perspetiva é de investimento, ainda que possa haver aqui ciclos pontuais penalizados por questões políticas locais, mas à parte disso acho que a tendência é positiva.

Várias indústrias têm vindo a confrontar-se com a dificuldade no acesso às matérias-primas e dilatação de prazos de entrega. De que forma isto tem afetado a vossa atividade, e a do próprio setor?

O estabelecimento de redes de abastecimento é algo que demora o seu tempo. É preciso estabelecer acordos, é preciso haver injeção ou habituação do próprio mercado àquele produto, por isso nada disto se faz de uma forma muito rápida. A disrupção provocada pela Covid, e depois a instabilidade política, têm alterado uma ordem natural que estava estabelecida há muitos anos e que agora está a ser reconfigurada, e qualquer reconfiguração tem um processo deliberado de intervenção que tem depois, também, uma inércia própria.

Nós estamos a viver um pouco os frutos dessa inércia e dessa adaptação nas mercadorias, que hoje fluem de uma forma diferente. A própria alteração do panorama energético fez com que determinado tipo de origens e destinos deixassem de ser competitivos. (...)

Leia a entrevista completa na Construção Magazine nº118 nov/dez 2023, dedicada ao tema 'Gestão na Engenharia Civil'

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