Conversas – Miguel Rocha

Miguel Rocha apresenta-nos uma perspetiva da evolução da utilização da terra como material de construção, abordando também as suas especificidades no que aos aspetos térmicos e estruturais diz respeito. São também aprofundadas as barreiras técnicas e legislativas que impedem um melhor uso deste material na construção.

Entrevista conduzida por Cátia Vilaça

A terra tem sido utilizada em construção desde os primórdios da humanidade. Com a evolução das técnicas e da tecnologia no setor da construção, que papel é que foi sendo reservado a este tipo de construção ao longo do tempo?

A construção com terra surge como resultado da utilização inata dos elementos que a natureza disponibilizava ao homem. Nos sítios onde havia madeira utilizava-se madeira, nos sítios onde havia pedra utilizava-se pedra, onde havia terra utilizava-se terra e onde havia material vegetal utilizavam-se fibras vegetais. A par dos outros materiais utilizados para construção, a terra também foi alvo de experimentação, utilização e recusa de alguns caminhos e opção por outros, em função de resultados positivos. Naturalmente que se tratava de resultados imediatos, sem qualquer base científica. Era experiência, erro, correção… nova experiência, novo erro, nova correção, etc. Ainda assim, foram alcançados níveis de qualidade extraordinários para todos os materiais, e a terra não foi exceção. Construíram-se desde simples abrigos a palácios e cidades completas com terra, o que é exemplificativo de duas coisas: o material permitia isso e a sua capacidade de transformação, utilização e resposta eram mais do que suficientes. Fizeram-se templos, fortificações e até coisas tão simples como canais de rega.

Após a revolução industrial, a utilização da terra como material de construção caiu drasticamente, ou seja, a revolução industrial foi um golpe muito duro na utilização das técnicas de construção com terra no mundo dito civilizado. As cidades começaram a usufruir da facilidade de transporte de materiais, da facilidade de recorrer a técnicos executantes das obras que não precisavam de perceber muito do acerca dos materiais porque havia outros técnicos que faziam os projetos e determinavam o material a utilizar, e que era mais fácil de transportar. Assim, a construção com terra começou a ser relegada para segundo plano. Paralelamente a isso, este tipo de construção começou a ganhar uma certa imagem de pobreza e de degradação por ter deixado de se praticar tanto. No início do século XX estava praticamente extinta.

E isso levou a uma estagnação do conhecimento acerca das técnicas...

Todo esse aspeto de relegação e de esquecimento fez também com que não houvesse um corpo de conhecimento científico ou académico. Havia, mas era muito incipiente e assentava na curiosidade de algumas pessoas que percebiam melhor do assunto e tinham alguma sensibilidade para os aspetos menos positivos da industrialização. Em meados do século XX houve, principalmente da parte de arquitetos e engenheiros, uma retoma do interesse e do estudo, agora com base científica. O pós-II Guerra Mundial também ajudou porque houve necessidade de construir muito. Se a partir de meados do século passado se foram retomando as técnicas tradicionais de construção, a partir do século XXI essa evolução é enorme a nível técnico-científico. Junta-se, mais recentemente, a preocupação com o meio ambiente e as preocupações com a sustentabilidade da construção. Está-se a reconhecer, também, as capacidades construtivas do material terra, agora com uma base científica porque hoje em dia não se pode construir sem se ter esse tipo de conhecimento. (...)

Leia a entrevista completa na Construção Magazine nº105 set/out 2021, dedicada ao tema 'Construção em terra'

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