Entrevista a Carlos Pina

Poucas semanas após a aposentação, Carlos Pina partilha com a Construção Magazine a experiência de décadas de acompanhamento e monitorização de barragens no LNEC. Uma conversa que contextualiza a necessidade das primeiras barragens e regressa ao presente com os desafios colocados pelas alterações climáticas e os impactos destas infraestruturas no ambiente.

Entrevista conduzida por Cátia Vilaça

Que tipo de acompanhamento e monitorização o LNEC tem feito às nossas barragens e como é que esse acompanhamento varia consoante o tipo e a dimensão dos aproveitamentos hidroelétricos?

Portugal iniciou o seu programa de construção de barragens em meados do século passado. Já existiam algumas barragens na Serra da Estrela do início do século, mas o programa significativo de barragens foi iniciado em meados do século passado com dois impulsos importantes: um ligado ao programa de produção de energia elétrica e outro ligado a um plano agrícola que também promoveu a construção de várias barragens. As barragens construídas naquela época são provavelmente as mais conhecidas de todos, quer no Zêzere, através da Hidroeléctrica do Zêzere - Castelo de Bode, Bouçã, Cabril. Na zona norte, a Barragem da Venda Nova foi a primeira mais importante ligada à hidroelétrica, mas há também a da Caniçada e um conjunto variado de barragens nessa zona, que depois prosseguiu com a construção das barragens no Douro, embora de outro tipo, mais de fio de água mas também para produção de energia hidroelétrica e também já com um fim importante de regularização de cheias.

Desde o início que houve um empenhamento significativo da engenharia portuguesa neste tipo de obras. Naturalmente, a tecnologia e o conhecimento sobre elas não existia nessa altura, mas a criação do LNEC está de alguma forma ligada a este plano de construção de barragens e a um plano de desenvolvimento global do país, de outras infraestruturas, mas muito especialmente às barragens. A constituição do LNEC e a sua atividade posterior tinham por objetivo adquirir conhecimento sobre a ciência ligada às barragens e sobre a engenharia de barragens, mas tratava-se, principalmente, de criar um corpo técnico que permitisse acompanhar, depois da construção das barragens, o seu comportamento.

Como todos sabemos, as barragens, nomeadamente as de grande altura, são talvez das obras de engenharia com mais riscos ou mais potencial de produzir danos muito significativos em caso de acidente. Portanto, era absolutamente necessário acompanhar o comportamento dessas obras para garantir a sua segurança. O LNEC foi encarregue, desde essa altura, de fazer esse acompanhamento, acompanhando a construção mas também instalando aparelhagem que permitisse conhecer o comportamento das obras ao longo do tempo – os seus movimentos, as tensões, extensões, um conjunto de informação que permitia ter esse conhecimento. Ainda hoje isso é feito, até por exigência regulamentar – está assim definido no Regulamento de Segurança de Barragens.

O LNEC suporta tecnicamente a autoridade de segurança de barragens, que atualmente é a Agência Portuguesa do Ambiente, e tem obrigação de manter um arquivo de toda a informação sobre as barragens e utilizá-lo para interpretar o comportamento dessas barragens de modo a saber, a todo o tempo, qual a situação em termos de segurança, para que se possa tomar as medidas necessárias atempadamente. Em alguns casos tem sido necessário, sem grandes problemas, ajustando obras à garantia de segurança, que é essencial. É isso que ainda hoje fazemos em todas as grandes barragens. (...)

Leia a entrevista completa na Construção Magazine nº107 jan/fev 2022, dedicada ao tema 'Barragens'

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