Segurança sísmica em infraestruturas críticas

O efeito dos sismos sobre o edificado volta a estar na ordem do dia. O recente sismo que afetou a Turquia e a Síria veio, mais uma vez, relembrar que é necessário garantir a segurança das nossas populações, protegendo-as dos efeitos devastadores destas catástrofes naturais.

Desde o início deste século que são já vários os sismos importantes que ocorreram, destacando-se, a título de exemplo, o de Sinchuam (China) em 2008, e o de Tohoku (Japão), em 2011, cujo tsunami destruiu um reator da central nuclear de Fukushima. Ainda no final do século anterior, em 1999, ocorreu um sismo em Kocaeli, Turquia, que causou imensos danos e perda de vidas humanas.

Em zonas sísmicas, como aquela em que vivemos, a ocorrência dos sismos é uma garantia. Não sabemos quando eles irão ocorrer, mas temos a certeza de que temos de estar preparados.

A segurança sísmica dos edifícios e das infraestruturas consideradas críticas é de uma importância fundamental para a segurança da comunidade. Neste contexto, incluem-se nas infraestruturas críticas a rede de cuidados hospitalares, as redes de transporte de energia, as redes de infraestruturas viárias, as barragens, entre outros.

A este tipo de estruturas é requerido um nível de desempenho sísmico muito mais exigente, pois a sua operacionalidade durante e após um sismo é de grande importância.

O seu desempenho não pode ser medido apenas pelo nível de danos que possam sofrer, mas sobretudo pela sua resiliência, ou seja, pela sua operacionalidade e pelo tempo de recuperação, caso fique momentaneamente inoperacional. Por exemplo, o impacto de um sismo na rede de distribuição elétrica não pode ser só contabilizado pelos danos diretos, mas, sobretudo, pelos danos causados pela interrupção de fornecimento de energia.

Alguns países começam a discutir a necessidade de aumentar a exigência no comportamento sísmico de algumas estruturas, para minimizar o impacto de um sismo de grande intensidade na sua economia. Esta preocupação tem sido mais notória nos países mais desenvolvidos.

Novas tecnologias têm emergido para dar resposta a maiores exigências de desempenho estrutural face às ações sísmicas. Entre elas está o isolamento de base. Esta forma de proteção sísmica procura separar a base dos edifícios das suas fundações, fazendo com que as componentes horizontais do movimento do solo induzidas pelos sismos produzam um efeito muito menor nas estruturas. É uma tecnologia já com grande aplicação em países como o Japão, a Nova Zelândia, os Estados Unidos ou, aqui na Europa, em Itália. Esta solução consiste na construção dos edifícios em cima de sistemas de apoios especiais, dispositivos estes que permitem isolar a estrutura dos movimentos do solo. Algo semelhante é usado há já muito tempo na proteção sísmica de pontes e viadutos.

A segurança sísmica das nossas estruturas e, em particular, das infraestruturas críticas, é um tema prioritário para a nossa sociedade, e a engenharia tem soluções para este desafio. O conhecimento atual do comportamento sísmico das estruturas é significativo e a regulamentação em vigor dá plena resposta às preocupações sobre o tema.

Embora as imagens que atualmente recebemos da Turquia e da Síria não deixem ninguém indiferente ao impacto dos sismos, é importante que essa preocupação se mantenha para lá destes momentos, pois a sociedade não pode ignorar que muitas zonas do globo, e particularmente Portugal, enquadram-se em regiões de potencial risco sísmico.

Em colaboração com Luís Guerreiro, co-editor da Construção Magazine nº113

Editorial da Construção Magazine nº113 jan/fev 2023, dedicada ao tema 'Segurança sísmica em infraestruturas críticas'

Humberto Varum

Diretor da Construção Magazine / Professor na FEUP

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