A reabilitação da envolvente de edifícios de habitação social exige uma abordagem inteligente

A intervenção no património edificado do século XX, construído antes de 1990, exige uma reabilitação construtiva e energética que tem de atender às condicionantes climáticas, culturais e disponibilidade financeira, bem como às futuras condições de utilização. Por outro lado, a reabilitação exige o conhecimento das soluções construtivas utilizadas no passado de forma que, com base no diagnóstico elaborado, se preconizem intervenções em que a durabilidade esteja assegurada.

Na reabilitação da habitação social em Portugal, procura-se, com investimentos da ordem de oito mil a 12 mil euros por fração, reabilitar a envolvente (coberturas, fachadas e caixilharias) e, simultaneamente, corrigir as infraestruturas nas zonas comuns. Quase sempre o suporte financeiro para as intervenções passa por recurso a programas que visam assegurar uma melhoria da classe energética e a evidência de que o investimento efetivo tem um período de retorno razoável face à poupança no consumo de energia.

Embora nobre o objetivo, deve afirmar-se que não se pode poupar energia quando não se gasta energia. Ora, na habitação social, por razões económicas, os consumos de energia são, antes das intervenções muito reduzidos, pelo que é impossível após as obras evidenciar, por medição, que houve poupança de energia. Considera-se que o que é verdadeiramente relevante para os utilizadores é assegurar uma melhoria do conforto, com as medidas de melhoria implementadas. Terá de se utilizar uma “inverdade conveniente” para no final do processo de reabilitação se evidenciar uma poupança potencial de energia e nunca uma poupança efetiva.

Nestas circunstâncias, não está em causa só o isolamento térmico da envolvente, mas sim o nível de desempenho global do edifício. Contudo, no que se refere ao coeficiente de transmissão térmica – U, este está condicionado por valores mínimos regulamentares que não fazem sentido por exigirem soluções e espessuras de isolamento que não são úteis para a melhoria do conforto. Sendo mais explícito, pode afirmar-se que na zona do grande Porto, no mês mais frio de inverno a temperatura média mensal é de cerca de 10º C, pelo que no interior das habitações, sem qualquer aquecimento, a temperatura é superior em 3 a 4º C, isto é, da ordem de 14º C. Colocar fortíssimas espessuras de isolamento térmico em fachadas é discutível e não altera significativamente a temperatura interior. Fortes espessuras de isolamento térmico são fundamentais quando se pretende conservar energia, o que não é verdadeiramente a situação da habitação social em Portugal.

Os grandes desafios que se colocam neste tipo de projeto de reabilitação são melhorar o conforto, assegurar uma ventilação controlada que permita obter qualidade do ar interior, minimizar os fenómenos de condensação e otimizar o comportamento passivo dos edifícios através da melhoria da inércia térmica, da proteção solar e da ventilação noturna.

Certamente que as energias renováveis devem ser equacionadas. No entanto, a integração de coletores solares, que permite melhorar a classe energética, deve ser pensada numa lógica técnico-económica, isto é, avaliar o investimento inicial, os custos de manutenção, a durabilidade dos sistemas, as perturbações no interior das frações e os consumos reais de água quente sanitária. Será preferível reequacionar o modelo de certificação energética para este tipo de edifícios do que implementar soluções, embora tecnicamente corretas, que não são verdadeiramente úteis na prática.

Esta comunicação pretende refletir sobre a experiência acumulada na reabilitação de centenas de frações de habitação social no grande Porto, apresentando aspetos metodológicos seguidos e a análise das soluções implementadas. (...)

Artigo publicado na Edição nº 83

Vasco Peixoto de Freitas

Membro do Conselho Científico da Construção Magazine / Professor na FEUP

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