A importância da qualidade acústica nos edifícios como um valor de mercado

Os motivos indicados tradicionalmente para a escolha, seja na aquisição ou no arrendamento, de moradias e apartamentos, para além do custo, são a localização, a vista, o posicionamento solar, a arquitectura do edifício, arquitectura do espaço interior, a qualidade dos acabamentos e o estado de conservação. Já no que diz respeito aos escritórios os motivos indicados são modernidade, inovação, tecnologia, espaço, conforto numa localização com dimensão, vida, dinamismo e com um bom conjunto de infra-estruturas, nomeadamente de transportes públicos.

Aparentemente, o acima referido indicaria que a qualidade acústica não é um factor.

Existem diversos estudos, a nível nacional e internacional, realizados por Entidades e Instituições como sejam a Organização Mundial de Saúde, Ministério da Saúde ou a Agência Portuguesa do Ambiente, que indicam que a exposição ao ruído excessivo pode provocar de modo imediato distúrbios do sono, alterar os níveis de concentração, com diminuição do rendimento intelectual, e aumentar os níveis de irritabilidade e de stress. Estes últimos podem desencadear alterações no aparelho circulatório, como sejam o aumento da tensão arterial. A exposição prolongada a ambientes de ruído pode fazer com que se desenvolvam de forma permanente hipertensão ou mesmo doenças cardíacas. Existem estudos ainda que referem o ruído como potenciador do desenvolvimento de doenças mentais já existentes ou que estejam latentes nos indivíduos. O ruído pode ser também responsável por perdas auditivas temporárias ou permanentes, mas essas situações são resultado da exposição a níveis de ruído elevados ao longo de vários anos, verificando-se principalmente em trabalhadores da área industrial, o que não se enquadra no assunto deste artigo.

O ruído e os seus efeitos há muito que passaram a ser uma preocupação.

As principais fontes de ruído ambiente têm origem no trânsito rodoviário, trânsito ferroviário e aéreo, nos trabalhos de construção e industrial e por fim com origem nos vizinhos. Existem também outras fontes de ruído no interior dos espaços, como sejam, no caso das habitações, a descarga de um autoclismo, a televisão a funcionar, o arrastar de uma cadeira ou mesmo o funcionamento de um electrodoméstico na cozinha. No caso dos escritórios, a conversa entre colegas (cada vez mais comum devido à proliferação da solução dos open-spaces), telemóveis a tocar, o funcionamento das impressoras e do ar condicionado e mesmo a iluminação instalada.

Existe uma consciência colectiva cada vez maior, resultante não só da experiência pessoal mas também da amplificação que é feita pela “discussão pública” (comunicação social, redes sociais, etc.) destas questões que faz com, que independentemente do tipo de utilização a que se destinam os edifícios, a qualidade acústica tenha de estar presente de modo a proporcionar um bem-estar geral.

Perguntas como “Vou ouvir os meus vizinhos?”, “Como são as paredes do apartamento?” e “Vou ouvir barulho da rua?” são um pequeno exemplo que demonstra, por um lado, essa cada vez maior consciência/sensibilidade para a acústica, como também uma maior exigência/necessidade, possivelmente em resultado de problemas num passado mais ou menos recente. Não falando nos casos específicos de hospitais e escolas, a questão acústica é sempre mais notada no que diz respeito a edifícios de habitação, em especial nos grandes centros urbanos, onde prevalecem os ruídos com origem no tráfego rodoviário, mas também na vizinhança. (...)

Artigo publicado na edição nº 92

André Santos, Engenheiro/ Gestor de Projeto

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