Intervenção mínima, transformação profunda. Reabilitação e ampliação de uma casa de 1928 pertencente a um “Grupo de duas casas iguaes” na Calçada de Santo Amaro, Lisboa

Projeto de Nuno Valentim em coautoria com Maria Ana Sousa Coutinho e colaboração de Margarida Ramos

Nota introdutória

As duas casas no Alto de Santo Amaro situam-se nas imediações do Palácio do Marquês de Valle Flor e do Palácio Jau. A hipótese de este “Grupo de duas casas iguaes” ter sido construído para altos funcionários do próprio Marquês de Valle Flor parece sustentável.

Os desenhos de projeto originais das casas, datadas de 1928 e de 1931, são assinados pelo Arquiteto Ferreira da Costa – mas a investigação não foi conclusiva em relação aos laços que ligam este arquiteto com José Cristiano Ferreira da Costa que terá sucedido ao arquiteto italiano Nicola Bigaglia na direção do projecto do Palácio Valle Flor e que terá sido, igualmente, o autor do edifício das cocheiras do Palácio (entre outras obras relevantes como o Vidago Palace). As casas revelam uma linguagem eclética, misturando elementos da arquitetura popular portuguesa (ou sua estilização) com traços beaux-arts, em pormenores de grande qualidade de desenho.

A planta documenta a organização interior da implantação em “L”, onde um dos lados, aberto à rua, é pontuado por dois alpendres (designados no projeto por “Terraço”), sendo um deles a entrada principal da casa.

Neste andar nobre é percetível que o corredor central, também em “L”, separa as salas (contíguas à rua) dos quartos e das zonas de serviço (ao logradouro). Sublinhe-se o cuidado e erudição transpostos para o desenho dos componentes interiores e exteriores num programa, aparentemente, corrente.

Atente-se ainda à altura expressiva do vazio sanitário sob o rés-do-chão elevado para ventilação das estruturas e do soalho em madeira do piso térreo do edifício; o corte desenhado revela igualmente a existência de um piso superior na cobertura, no aproveitamento condicionado da zona central do desvão do telhado, para quartos e espaços de serviço.

Estado de conservação e caracterização construtiva

As casas de Santo Amaro, apesar de não serem edifícios classificados, são edifícios de inegável valor arquitetónico - confirmado pelos levantamentos, pelo estudo diagnóstico e pela própria pesquisa arquivística.

A elaboração do Relatório de Inspeção e Diagnóstico, sob coordenação do Prof. Aníbal Costa foi, como sempre, fundamental para o conhecimento do edifício e determinante para as soluções de projeto. Este estudo, muito aprofundado a nível estrutural e não estrutural, para além da caracterização do estado de conservação da casa (que nos permitirá atacar cirurgicamente as causas das anomalias sem generalização supérfluas), permite ainda reconhecer testemunhos construtivos de valor patrimonial habitualmente ocultos.

Uma das conclusões principais desta análise é que o edifício se encontrava num estado de conservação “assimétrico”, ou seja, apresentando grandes áreas perfeitamente recuperáveis e outras, mais expostas ao sol e chuva, bastante degradadas e com necessidade de substituição – mas com grande parte da matéria existente reintegrável num programa de reabilitação adequado (as principais anomalias detetadas foram a humidade nalguns tetos do piso térreo, destacamentos e empolamentos pontuais de estuque nos tetos, fissuras em paredes e tetos). (...)

Artigo completo na Construção Magazine nº100 nov/dez 2020

Nuno Valentim Lopes

Professor na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto

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