The Future of Design Streets: o planeamento urbano a partir da rua

por Cátia Vilaça

Acontece amanhã no Porto a primeira conferência da plataforma The Future of Design Streets, que tem vindo a promover eventos, maioritariamente online, que convidam à partilha de ideias para melhorar o espaço público, sempre a partir da rua. Desde 2020, já foram realizados vários webinars e duas city editions, ou seja, eventos que colocam no centro do debate não um tema particular do urbanismo mas os desafios concretos de uma realidade local. As city editions foram dedicadas ao Porto (online) e a Braga (presencial).

Daniel Casas Valle, arquiteto e investigador do Centro de Estudos de Arquitetura e Urbanismo da FAUP, e membro da organização, conversou com a Construção Magazine sobre esta conferência, que decorrerá nas instalações da ANJE, e também sobre a génese da plataforma.

O Future of Design Streets nasce, em primeira instância, de “uma análise das nossas ruas”, explica o arquiteto e investigador, e essa análise envolve arquitetos, urbanistas, engenheiros ligados à mobilidade, ao saneamento e à paisagem. No conceito de rua cabe uma multiplicidade de modelos, por isso há que ter em conta a análise da mobilidade – quer a pedonal e ciclável, quer o espaço que o automóvel tem vindo a ocupar. Cabe também a rua enquanto espaço social, de convívio e de lazer, enquanto espaço cultural que acolhe os mais diversos tipos de celebrações, e também enquanto espaço económico, de prestação de serviços e de transações económicas. Tudo isto sem esquecer a vertente da sustentabilidade e da adaptação climática, que naturalmente se interseta com outras (a qualidade do ar, por exemplo, está diretamente ligada à mobilidade).

Ora, como melhorar a rua, em termos gerais, quando cada rua tem as suas particularidades? Não vai haver uma solução única, avisa Daniel Casas Valle, mas pensar à escala micro pode ser importante para depois evoluir. Contudo, há eixos comuns a todas as ruas, que devem ser pensados quando o objetivo é melhorá-las. Um desses eixos é, desde logo, a tipologia: importa pensar de que tipo de rua se trata e como se deve enquadrar no bairro ou no município, e que possibilidades existem de operar uma mudança – permanente ou temporária. Noutra camada, importa ter em conta as atividades, como andar, a pé ou de bicicleta, ou até mesmo organizar uma corrida, uma manifestação ou montar um mercado, ou simplesmente brincar. E numa outra dimensão, que extravasa o espaço público, mas contribui definitivamente para a sua definição, está o rés-do-chão dos edifícios, porque as interações que se proporcionam numa rua com lojas em nada se assemelham às que (não) se proporcionam numa outra onde imperam as garagens.

O exercício de aplicar um modelo a realidades tão distintas parece exigente, mas Daniel Casas Valle chama a atenção para os elementos estandardizados. Desde logo, os passeios para peões, que são transversais. E ainda que o automóvel se tenha vindo a impor, retirando à rua a vertente de inclusão social preconizada pelo investigador, não faltam exemplos de centros históricos em Portugal, Espanha, Países Baixos ou Dinamarca onde se optou por retirar os carros.

Independentemente dos eventos que nasçam futuramente a partir da plataforma – conferências, webinars ou city editions, a intenção é fazer o Future of Design Streets crescer noutras dimensões, explorando, por exemplo, o network, ou seja, a possibilidade de a comunidade se conectar a partir desta ferramenta, e também colocar os olhos no futuro, explorando novos modelos de desenho, de planeamento e gestão de ruas.

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