Avaliação sísmica do património cultural construído: uma abordagem interdisciplinar

O Património Cultural Construído (PCC) é o conjunto do legado de construções reconhecidas pela sua importância histórica e cultural. Permite adquirir um valor único de civilização ou de cultura e assume relevância para a compreensão, permanência e construção da identidade nacional. Identifica-se através de formas de expressão tangíveis, tais como os tipos de materiais, as técnicas de construção, as soluções estruturais e arquitetónicas, etc.

O PCC na Europa é composto não só por edifícios distintos (monumentos), mas também por centros urbanos históricos compostos por edifícios residenciais que, em alguns casos, mantêm as suas propriedades originais. Constitui uma componente importante da identidade individual e coletiva, e também promove o turismo, um setor económico significativo, extremamente valioso para muitas cidades e países. Em parte, devido a isso, o ambiente construído não foi totalmente renovado na maioria dos países europeus.

Apesar desse potencial cultural e económico, os locais e estruturas de PCC têm-se mostrado vulneráveis e pouco resilientes a desastres naturais, não apenas devido à sua fragilidade intrínseca, mas também devido à sua longa exposição a todos os tipos de efeitos do envelhecimento.

No que se refere à avaliação do seu comportamento face aos sismos, o PCC requer uma abordagem interdisciplinar para lidar eficientemente com todas as etapas envolvidas: o conhecimento e a caraterização da estrutura, a análise estrutural subsequente e o potencial projeto de intervenção.

Em Lisboa, uma cidade caracterizada por risco sísmico de moderado a elevado, uma parte importante do parque imobiliário – cerca de 35% (1) – é composta por construções de alvenaria não reforçada erguidas antes da introdução de disposições adequadas de conceção sísmica, destacando o seu potencial de alta vulnerabilidade sísmica. Todos estes edifícios têm um valor cultural significativo e estabelecem uma herança que certamente merece ser preservada; o valor do património arquitetónico não decorre apenas da sua aparência, “mas também na integridade de todos os seus componentes como um produto único da tecnologia de construção específica de seu tempo e do seu local” (2).

Rita Bento (CERIS, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa)

Artigo publicado na edição nº91 da CM

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