Entrevista a Inês Vieira da Silva
Numa edição dedicada à Construção e Reabilitação em Madeira, a Arquiteta Inês Vieira da Silva fala-nos dos critérios em que se baseia para utilizar este material nos seus projetos e nas vantagens deste material. Aborda também alguns exemplos de utilização da madeira em projetos do seu atelier.
Qual o papel que a madeira desempenha nos vossos projetos, quer ao nível da reabilitação quer da construção nova?
A madeira é um material natural que pode desempenhar várias funções num edifício, desde a sua aplicação em elementos estruturais de uma construção até à sua utilização em revestimentos interiores ou exteriores.
Devido à multiplicidade de tipos de madeira existentes, é possível obter ambientes e atmosferas muito distintas, entre si, se utilizarmos madeiras exóticas ou madeiras nórdicas, por exemplo.
A possibilidade de utilizar um determinado tipo de madeira da forma mais adequada ao que pretendemos para cada projeto é algo que nos interessa particularmente no uso da madeira.
Também a capacidade que este material tem de se transformar ao longo do tempo, por ser um material natural, está muito presente na nossa decisão quando a escolhemos para determinada solução de projeto.
A vossa opção pelo uso da madeira é condicionada pelo tipo de obra (habitação, turística ou outra)?
Utilizamos a madeira sempre que achamos que é o material que melhor responde ao que pretendemos para cada projeto. No projeto Granel, com o qual fomos distinguidos recentemente com um voto de louvor extraordinário no Prémio Nacional de Madeira, o dono-de-obra tinha um armazém com muita madeira quando adquiriu a propriedade. Neste caso específico, foi o próprio dono-de-obra que nos pediu que fizéssemos o projeto de forma a utilizar o mais possível a madeira existente. Assim, a madeira foi utilizada como elemento estrutural mas também como elemento de revestimento de paredes interiores e exteriores, e de coberturas inclusivamente. No projeto da casa C/Z foi também o dono-de-obra a pedir-nos uma casa em madeira e neste caso propusemos revestir a casa com madeira à qual aplicámos uma velatura preta de forma a imprimir um caráter mais abstrato ao material, deixando, no entanto, perceber a sua textura.
Quais as principais vantagens que reconhecem ao uso deste material?
As principais vantagens ligam-se com o conforto que a madeira imprime a um determinado espaço, de forma muito natural e quase imediata. Esta característica alia-se à capacidade de a madeira nos surpreender com a sua transformação, ao longo do tempo.
A utilização da madeira acarreta riscos como a possível perda de integridade por ataque de xilófagos ou a questão da segurança contra incêndios. De que forma acautelam estes riscos nos vossos projetos?
As madeiras estão hoje em dia muito mais protegidas e resistentes devido à multiplicidade de tratamentos que lhes podem ser aplicados, justamente para poderem ser mais resistentes a ataques de parasitas ou a responderem de forma mais prolongada a uma exposição ao fogo.
A casa C/Z, projeto que obteve o segundo lugar no PNAM, tem classificação energética A+. Esta classificação foi obtida essencialmente com recurso a técnicas passivas ou a equipamentos eficientes/com funcionamento a partir de energia renovável?
Com recurso a equipamentos eficientes com funcionamento de energia renovável, nomeadamente com recurso a painéis solares, cuja solução foi desenvolvida juntamente com a equipa de engenharia Natural Works.
Uma vez que já utilizou criptoméria dos Açores, qual é o seu parecer em relação ao uso desta espécie na construção?
A criptoméria é uma madeira de origem nipónica mas que se adaptou muito bem ao clima dos Açores e é, por isso, plantada nas ilhas do arquipélago, justamente para ser utilizada na construção. Tem um tom forte e apresenta muitos nós, pelo que a sua utilização deverá ser bem medida, uma vez que imprimirá de imediato um caráter muito ligado à arquitetura tradicional a qualquer espaço em que a utilizemos.
Imagens cedidas pelo atelier SAMI-arquitectos
Inês Vieira da Silva é licenciada em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa. Após uma colaboração no atelier do Arquiteto João Luís Carrilho da Graça, colaborou no processo de Candidatura da Paisagem Protegida da Vinha da Ilha do Pico a Património da Humanidade, obtida em 2004. Colaborou igualmente no Gabinete Técnico da Paisagem Protegida da Vinha da Ilha do Pico. Em 2005 fundou, com o Arquiteto Miguel Vieira, o atelier SAMi-arquitectos.
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