Reforçar o projeto e a consultoria em língua portuguesa
A Associação Portuguesa de Projectistas e Consultores (APPC) apresentou ontem no Porto o projeto Engenharia e Arquitetura pelo Mundo, que visa criar pontes entre profissionais de Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
O objetivo é consolidar o mercado e o relacionamento no seio do espaço de língua portuguesa, entre países que, para já, correm a diferentes velocidades. Esse desfasamento é evidenciado pelo facto de só Portugal e Moçambique terem ainda associações do setor constituídas. A Associação de Empresas Moçambicanas de Consultoria procura valorizar a excelência e a ética da consultoria desde 2002. Bruno Vedor, arquiteto e presidente da AEMC, reconheceu a existência de dificuldades em afirmar o setor por causa da corrupção, visível, por exemplo, em esquemas de aliciamento em torno dos concursos públicos e de alguns erros cometidos no lançamento destes mesmos concursos. Por isso, a associação assume um papel de vigilância dos concursos, divulgando-os e alertando as autoridades para erros ou incongruências que seja necessário corrigir. A associação congrega áreas de consultoria tão diversas como Engenharia, Hotelaria ou Seguros, divulgando também anúncios de emprego.
A Associação Angolana de Projetistas e Consultores está ainda a ser lançada. Paulo Nóbrega, da Comissão Instaladora, enquadra o setor da construção no contexto político e social do país. Desde que a paz foi alcançada, em 2002, o país viveu um ciclo de investimento maciço na construção, impulsionado pela necessidade de reconstruir o país, o que levou a um crescimento exponencial das atividades de consultoria. O ritmo desse crescimento foi, no entanto, superior ao ritmo de formação de quadros técnicos capazes de fiscalizar e garantir a qualidade das obras, o que gerou problemas acompanhados de dificuldade em encontrar os responsáveis. Agora, Paulo Nóbrega acredita que já se ganhou massa crítica que permita fazer as coisas de outra forma, e acredita também que a eleição de João Lourenço abre um novo ciclo no país: um ciclo de transparência e atração de investimento privado, que vai continuar a impulsionar a atividade de consultoria.
João Ramos, da Comissão Instaladora da Associação Cabo-Verdiana de Projetistas, está otimista em relação ao desenvolvimento económico do país. Após a crise de 2008, o responsável vê sinais de retoma da economia, impulsionados pelo turismo, sobretudo nas ilhas do Sal e Boavista, onde há investimento estrangeiro. Embora os engenheiros e os arquitetos cabo-verdianos já tenham as suas ordens profissionais, não há, até ao momento, uma associação que congregasse os projetistas. Com este passo, João Ramos acredita que vão criar-se condições para que o setor tenha maior capacidade de influência junto das autoridades.
Domingos Gomes acredita que a Guiné-Bissau é o país que mais vai ganhar com esta parceria. A futura Associação de Projetistas da Guiné-Bissau, que representa, vai dar força a um grupo de profissionais cuja atividade não tem tradição naquele país, onde os projetos têm vindo do estrangeiro, sem participação efetiva dos profissionais locais. Embora exista uma Ordem dos Arquitetos, não existe dos engenheiros e Domingos Gomes aponta o apertado controlo do Estado sobre estas matérias para justificar a pouca margem de manobra dos profissionais liberais, algo que a futura associação deverá ajudar a colmatar.
Tudo o que ainda falta fazer em Timor
João Alves, vice-presidente da Câmara de Comércio e Indústria de Timor-Leste, apresentou um país de carências e oportunidades. Se o Mergulho é considerado um atrativo turístico da região, o responsável acredita que é necessário criar condições para trazer os turistas. E as necessidades são muitas: o Governo está a construir 154 km de autoestrada para servir estações de petróleo mas ainda falta fazer 7 mil km de estradas, porto e aeroportos. Falta criar um plano de ordenamento do território para os municípios e substituir a instalação de eletricidade, que é antiga. A água e o saneamento é outra das prioridades do país, detalhadas num Plano Estratégico com um horizonte até 2030.
Se o encontro de ontem serviu essencialmente para fazer um ponto de situação, dentro de seis meses a APPC planeia fazer um seminário de lançamento do projeto, também no Porto.
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