Construção circular e digitalização dos processos
Já todos sabemos que a construção é um dos setores prioritários para a política de descarbonização, não só pelos recursos e energia consumidos durante o processo de construção propriamente dito, mas sobretudo pelos consumos que estão associados à utilização dos edifícios durante a sua vida útil.
Os desafios são enormes, não só porque se trata de um setor de atividade que é ainda muito tradicional e resistente à inovação, como é comprovado pela fraca evolução em décadas da respetiva produtividade, como, além disso, está integrado numa fileira que é extensa, diferenciada e complexa.
Ainda que a maioria dos produtos utilizados na construção sejam, hoje em dia, produtos industriais e não materiais em sentido estrito, eles são muitíssimos diversificados e relacionados com cadeias industriais, tecnologias e sistemas logísticos diferentes.
Normalmente, o processo começa na extração de matérias-primas como o calcário, a argila, os inertes, o carvão e minérios como o ferro ou o cobre, mas também no corte de árvores, ou na extração e refinação do petróleo. Depois temos sucessivos processos de transformação industrial até chegar a produtos e equipamentos utilizáveis para construir edifícios.
Para que estes cheguem às obras é necessário uma logística extensa e complexa. A sua utilização específica é objeto de prescrição prévia, que obedece, por sua vez, a um trabalho especializado de projeto de arquitetura e de engenharia. Só depois vem o trabalho de construção em obra, propriamente dito, que também está longe de ser simples e indiferenciado. Aliás, este é cada vez mais complexo e exigente, quer em termos de programação, quer em termos de especialização do trabalho e dos equipamentos utilizados. Mas não acaba aqui, porque as construções e os edifícios têm de ser geridos, mantidos e renovados.
Por isso, quando falamos em desafios temos de ter a noção que eles não são necessariamente os mesmos, ou pelo menos não impactam da mesma maneira, em todas as fases e atores deste ecossistema da construção.
No quadro destas orientações para a descarbonização, tem feito caminho recentemente uma abordagem em especial: a economia circular. (...)
Por José de Matos, APCMC – Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção
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